Título: Lula pede a PT que não insista em candidato
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2007, Nacional, p. A6

Ele quer evitar que 3.º Congresso restrinja negociações para 2010

Em mais uma tentativa de evitar novo racha na base aliada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou água na fogueira petista. Nas conversas mantidas com governadores e dirigentes do PT, na semana passada, ele fez um apelo: pediu esforço concentrado para desidratar a resolução política do 3º Congresso do partido, marcado para começar na sexta-feira, e não incluir no texto a defesa veemente da candidatura própria à sua sucessão, em 2010. Lembrou que o gesto indicaria boa vontade para o diálogo.

¿É importante que o PT esteja disposto a conversar com os outros partidos¿, disse Lula na entrevista publicada ontem pelo Estado. ¿Olhou para a frente, tem de ver a cara do Ciro, tem de ver a cara do Jobim e de outras figuras de outros partidos, que ainda vão surgir¿, acrescentou, falando do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

A referência a um candidato à sucessão presidencial é amena na proposta apresentada pelo antigo Campo Majoritário, mas todas as demais correntes abordam o tema como um dos grandes desafios para o projeto de poder da legenda e não estão dispostas a ceder. O argumento é que o PT precisa, pela primeira vez em seus 27 anos, preparar-se para o pós-Lula, fustigando o PSDB e o DEM.

O timing dessa operação embute mais uma divergência entre Lula e o PT. A lista de contenciosos inclui vários senões: das desavenças sobre os rumos da política econômica ao espaço ocupado no governo, passando por propostas de reformas defendidas pelo Planalto e combatidas pelo partido, como a da Previdência. Os chamegos de Lula na direção de Jobim, de Ciro e do governador de Minas, o tucano Aécio Neves - potenciais concorrentes à Presidência -, também causam ciumeira nas fileiras petistas e desconforto no PMDB, o principal parceiro da coalizão.

¿Temos de manter a regra da boa convivência nas eleições municipais para não prejudicar a coalizão nacional¿, insistiu o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB. ¿Se depender de mim, a proposta de candidatura própria em 2010 não aparecerá na resolução do Congresso¿, emendou o deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente do PT. ¿A antecipação desse debate não ajuda em nada, até porque a conjuntura é sempre muito dinâmica.¿

O assunto promete esquentar as discussões. As tendências Articulação de Esquerda e Novo Rumo propõem que o documento do 3º Congresso carregue nas tintas e mencione com todas as letras a necessidade de o PT fazer ¿oposição vigorosa¿ aos governadores tucanos Aécio e José Serra, de São Paulo. Os dois são pré-candidatos do PSDB à cadeira de Lula.

¿A inexistência de uma candidatura natural, como foi a de Lula (...), imporá ao partido um esforço extra para manter unificadas as forças `governistas¿, bem como para construir um nome petista à Presidência¿, destaca o texto da Articulação de Esquerda. ¿Tendo em vista que os dois principais pré-candidatos oposicionistas são Serra e Aécio, fazer-lhes oposição programática vigorosa é uma das condições exigidas para o sucesso da nossa empreitada.¿

A defesa da oposição aos governadores tucanos já aparecia em texto aprovado pela Executiva Nacional há 4 meses, mas o Planalto trabalha para que não conste da resolução do Congresso. Não é à toa que o documento do antigo Campo Majoritário - que conquistou 51% dos 931 delegados ao encontro - é bem mais ameno. Apesar de defender a continuidade dos ¿oito anos de transformação do País¿, não dá nome aos bois. Diz apenas que as eleições municipais serão ¿um momento delicado¿, em que as ¿forças conservadoras¿ atacarão o PT de todas as formas.

A corrente Movimento PT, liderada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), também vai nessa direção, mas avalia que o encontro precisa começar a preparar terreno para a candidatura própria em 2010. ¿É um desejo de mais de 90% do diretório nacional¿, resume Romênio Pereira, secretário de Organização do partido.

Mais enfático, o deputado Jilmar Tatto (SP), da facção PT de Luta e de Massas, diz que o partido deve ter ¿cara própria¿ no segundo mandato. ¿Lula usa o PT para aprovar coisas ruins, como a prorrogação da CPMF. Mas, nos momentos de crise, quem defende o PT?¿, pergunta Tatto, um dos vice-presidentes do partido. ¿Precisamos salvar o PT quando o governo acabar. Não podemos viver como correia de transmissão do Planalto.¿

Da Democracia Socialista, o deputado Tarcísio Zimmermann (RS) vai além. ¿Se a candidatura própria do PT servir como fator de tensionamento é porque a coalizão é muito frágil¿, provoca o deputado, que assina a chapa ¿Mensagem ao Partido¿, capitaneada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro.