Título: Fogo ameaça relíquias gregas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2007, Internacional, p. A16

Incêndios florestais, que já mataram 60 em 3 dias, chegam ao sítio arqueológico de Olímpia

Os piores incêndios florestais em décadas na Grécia ameaçavam ontem as ruínas de Olímpia, berço dos jogos olímpicos. Pelo menos 60 pessoas morreram desde sexta-feira no país, que está sob estado de emergência. As autoridades acreditam que o número de mortos deve subir. ¿Há focos de incêndio em mais da metade da Grécia. Esse é definitivamente um desastre sem precedentes¿, afirmou o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Nikos Diamandis.

Um dos focos atingiu Olímpia na madrugada de ontem. Os moradores da cidade foram retirados às pressas, enquanto bombeiros e aviões de combate a incêndio tentavam impedir que as chamas chegassem ao museu e às ruínas.

Após horas de combate às chamas, o fogo foi controlado, mas a vegetação em torno das ruínas foi totalmente destruída. ¿Não sabemos ainda qual a extensão dos danos na área de Olímpia, mas o importante é que o museu e as ruínas não foram danificados¿, declarou o ministro da Cultura, George Voulgarakis.

O Templo de Apolo, construção que tem 2.500 anos, também estava ameaçado pelas chamas na cidade de Andritsaina, no sul do país. ¿Estamos tentando salvar o templo e a cidade¿, disse o prefeito local, Tryphon Athanassopoulos.

No restante do país, moradores e turistas em pânico continuavam a ser retirados de hotéis e casas. A área mais afetada pelo fogo é a Península do Peloponeso, onde bombeiros combatiam 42 grandes focos. Perto da cidade de Zaharo, ao sul de Olímpia, pelo menos 37 pessoas morreram. Dezenas foram internadas em hospitais com queimaduras e problemas respiratórios.

No rastro do fogo, equipes de resgate encontraram corpos de moradores surpreendidos quando tentavam fugir das chamas, entre eles os de uma mãe abraçada aos quatro filhos. A capital Atenas está coberta desde sábado por uma fuligem branca. Em alguns subúrbios, a fumaça chega a obscurecer o sol.

Cerca de mil soldados foram destacados para ajudar os bombeiros a combater as chamas e pelo menos 12 países, a maioria da União Européia, mobilizaram-se para enviar ajuda. França e Itália cederam seis aviões de combate a incêndios.

De acordo com a Reuters, sete pessoas foram presas desde sábado, acusadas de iniciarem deliberadamente os incêndios. O primeiro-ministro grego, Costas Karamanlis, disse no sábado que ¿com tantos incêndios surgindo simultaneamente em várias partes do país, a situação não é apenas uma coincidência¿.

O governo, criticado pela demora em controlar outros incêndios no começo do mês, quando dez pessoas morreram, anunciou ontem que dará até 10 mil para pessoas que perderam familiares ou casas. A algumas semanas das eleições parlamentares, os incêndios devem influenciar o voto dos gregos. O partido conservador do governo Nova Democracia, perdeu apoio e conta hoje com apenas 1,5 ponto porcentual de vantagem em relação ao Movimento Socialista Pan-Helenista (Pasok). No sábado, o grupo prometeu doar 30% de seu orçamento de campanha para as vítimas dos incêndios.

A população, no entanto, parecia ter perdido a paciência com os políticos. ¿Deixe os políticos virem aqui. Assim eles verão que tipo de votos vão receber¿, disse um homem na cidade de Zacharo, enquanto via seu restaurante ser consumido pelas chamas.