Título: Dólares refletem boom do setor
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2007, Economia, p. B3
Investimento externo subiu 12,5 vezes em sete meses
O ingresso de investimentos estrangeiros diretos no setor da construção civil disparou nos sete primeiros meses do ano e atingiu US$ 900 milhões - 12,5 vezes mais do que os US$ 72 milhões do mesmo período de 2006 e quase três vezes mais do que os US$ 321 milhões de todo o ano passado. O fluxo, segundo dados do Banco Central, está majoritariamente direcionado para empresas imobiliárias, movimento que reflete o boom no setor, um dos mais aquecidos da economia brasileira.
Essa situação, na avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, não coloca o Brasil na rota de risco da volatilidade dos mercados mundiais, em decorrência da bolha imobiliária nos Estados Unidos. 'Não acredito que a atual turbulência vai afetar o apetite dos estrangeiros no setor imobiliário brasileiro', comentou. 'Nós temos um espaço muito grande de crescimento com segurança.' No entanto, ressalvou que o que está acontecendo nos EUA 'deve servir de lição para que não venhamos a ter excessos no Brasil'.
O presidente da CBIC avalia que o Brasil é a 'bola da vez' em termos de atração dos investidores estrangeiros por diversos fatores, como a consolidação da estabilidade econômica, o maior ritmo de crescimento, o aumento nas reservas internacionais e a trajetória de queda nos juros. E, nesse contexto, a construção civil é uma área que apresenta grandes oportunidades de ganho porque tem um potencial elevado de expansão.
'O Brasil está na mira do capital estrangeiro e o mercado imobiliário ainda é extremamente acanhado quando comparado com outros países, como o Chile.' Safady lembrou que o crédito imobiliário representa cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, enquanto no Chile está nos 18%.
O ambiente econômico favorável para o longo prazo e a trajetória de queda nos juros, na avaliação do dirigente da CBIC, tem aumentado o volume de financiamentos para o setor, por causa dos custos menores e ampliação de prazos de pagamentos. 'Além disso, os procedimentos estão mais transparentes, o que tem fortalecido o mercado e levado a um grande interesse do capital nacional e estrangeiro', disse Safady.
Segundo ele, como os negócios nesse segmento são voltados ao longo prazo, os investimentos estrangeiros mostram confiança no futuro desse mercado. O crescimento do IED na construção em termos relativos, no período, só perdeu para o de combustíveis, que tem recebido investimentos por causa do etanol. Mas, em termos absolutos, a construção teve melhor desempenho que os combustíveis, que em sete meses receberam US$ 849 milhões. De janeiro a julho de 2006, o IED no setor de combustíveis havia sido de apenas US$ 18 milhões.
O professor da PUC-SP, especialista em contas externas, Antônio Corrêa de Lacerda, confirma a avaliação do BC. 'A construção civil vive um boom devido à redução dos juros e à facilidade de financiamento', disse Lacerda. Segundo ele, a aproximação do grau de investimento da economia brasileira, a ser concedido pelas agências de classificação de risco, atrai os investidores internacionais para esse mercado.