Título: CNI ataca política ambiental 'radical'
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2007, Economia, p. B9

Representante das indústrias recusa-se a participar de conferência e critica critérios adotados pelo ministério

Apesar de algumas melhoras, ainda prevalece no Ministério do Meio Ambiente uma visão radical, pautada por um ambientalismo apaixonado, pouco disposto a discutir e encontrar alternativas que permitam realizar o desenvolvimento econômico de forma sustentável. A avaliação é do presidente do Conselho Temático Permanente do Meio Ambiente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. Para ele, essa visão tem contaminado a formatação das Conferências Nacionais do Meio Ambiente, cuja próxima edição (a terceira), prevista para maio de 2008, não terá a participação da CNI.

Andrade assinou e enviou no início deste mês uma carta ao Ministério do Meio Ambiente informando que a entidade não participará da próxima edição do encontro. Para o empresário, o critério para definir os participantes da conferência, que tem o papel de contribuir para a formulação de políticas na área ambiental, é direcionado para que haja uma prevalência absoluta das entidades ambientalistas, com baixa representatividade do setor produtivo.

Ele explica que a grande maioria dos delegados participantes e expositores são escolhidos nos fóruns estaduais, o que facilitaria a ação das organizações não governamentais (ONGs) ambientalistas que, ao abarrotar essas instâncias com seus representantes, ganhariam mais assentos. Enquanto isso, o empresariado ficaria sub-representado.

'Você tem um número pequeno de pessoas representantes do setor produtivo com lugar na conferência. Não é um critério correto, justo. Não há equilíbrio dos expositores', disse Andrade, lembrando que a reclamação tem sido feita desde a primeira edição e, apesar das promessas do ministério, nada foi feito. 'Com esse formato, o Ministério do Meio Ambiente quer dar um enfoque só ambientalista, sem discutir as formas de se desenvolver de maneira responsável. Em vez de se discutir 'como fazer', continua-se discutindo o 'não vou fazer'.'

Na carta, a CNI destaca que a decisão de não participar da conferência foi tomada após 'cuidadosa avaliação', levando em conta não só os critérios de escolha, mas também os resultados das duas conferências anteriores. O documento salienta ainda que, esses encontros, nos quais o ambiente teria sido 'hostil' à indústria, não conseguiram produzir uma política de desenvolvimento sustentável para o País.

Apesar das críticas ao ministério, Andrade reconhece que houve avanços na área ambiental, sobretudo porque o governo percebeu que, para viabilizar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é preciso superar o gargalo dos licenciamentos ambientais, que, por exemplo, atrasaram o início dos projetos de hidrelétricas no Rio Madeira. 'O problema é que muitas vezes há setores do governo querendo simplesmente dizer não e até atrapalhar determinados programas que o próprio governo definiu como prioritários', afirmou Andrade.