Título: China ameaça revidar pacote de restrições do governo Kirchner
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2007, Economia, p. B7

Argentina quer frear a importação de produtos chineses, que cresceu 59%

O governo da China ameaçou revidar as medidas protecionistas anunciadas por Néstor Kirchner com o objetivo de dificultar a entrada de produtos chineses no mercado argentino. Segundo um comunicado de Pequim, é 'irracional e inaceitável que a Argentina tome tais decisões sem avisar previamente'. O comunicado também informa que o presidente Hu Jintao 'planeja restrições similares'.

De acordo com o governo chinês, a Argentina, 'um dos membros fundadores da Organização Mundial do Comércio (OMC), colocou barreiras à entrada legal de produtos chineses, ignorando as normas da OMC, fato que prejudica os direitos da China'.

O governo argentino retrucou por meio do diretor-geral de Alfândegas, Ricardo Etechegaray: 'As medidas que tomamos estão dentro do contexto da OMC. Nós só colocamos medidas de controles. Não existe uma proibição para importar.'

A ameaça chinesa causou calafrios no setor empresarial de Buenos Aires, especialmente entre produtores e exportadores de soja. No ranking das vendas argentinas para o mercado chinês a soja ocupa o primeiro lugar. O produto - entre janeiro e junho - foi responsável por quase 80% das exportações argentinas à China, somando US$ 2,1 bilhões no período. A expectativa, antes da ameaça de revide, era de vender US$ 3,5 bilhões em soja e derivados neste ano à China.

Com as medidas protecionistas, anunciadas há 10 dias, o governo Kirchner pretende reduzir substancialmente o volume das importações de produtos chineses de 11 setores, como pneus, bijuterias de plástico, têxteis, calçados, brinquedos, bicicletas e produtos de informática.

As importações desses produtos cresceram 59% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, alcançando US$ 2,04 bilhões. As vendas argentinas para a China só aumentaram 31%, alcançando US$ 2,14 bilhões nesse mesmo período. O temor do governo argentino é que, pela primeira vez desde a desvalorização do peso, em janeiro de 2002, a Argentina tenha déficit comercial com a China.

O argumento oficial para a aplicação das medidas é proteger a indústria nacional, além de resguardar o consumidor de produtos que supostamente não respeitam as normas de segurança, entre eles, brinquedos e pneus.

As medidas consistem principalmente em licenças não-automáticas para importação. Outras estipulam que diversos produtos deverão contar com especificações técnicas estampadas. O governo argentino ainda aumentou a exigência de requisitos técnicos, levando em conta a qualidade do produto, um ponto que costumeiramente é a deficiência da mercadoria produzida na China.

CAMPANHA

Analistas em Buenos Aires afirmam que as medidas foram tomadas por questões eleitorais. Kirchner está em plena campanha, na função de cabo eleitoral de sua mulher, a senadora Cristina Fernández de Kirchner, candidata à presidência da República nas eleições de outubro.

Para esses analistas, as medidas têm a intenção de agradar ao empresariado a curto prazo e, assim, conseguir maior respaldo para a eleição de Cristina.