Título: Segundo investigação, pagamentos a aliados vinham de esquema engenhoso
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2007, Nacional, p. A4

Quando descoberto, de acordo com o Ministério Público, o esquema do mensalão era uma ¿organização criminosa¿ com estrutura sofisticada, dividida em três núcleos, que garantia o fluxo de dinheiro dos cofres públicos até as mãos de aliados. Segundo o procurador-geral de Justiça, Antonio Fernando de Souza, o cerne da ¿quadrilha¿ foi montado pelo alto comando petista - José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e Sílvio Pereira - para ¿angariar ilicitamente¿ apoio ao governo.

Esse núcleo - ministro da Casa Civil, tesoureiro, presidente e secretário-geral do PT - estruturou o ¿engenhoso esquema¿. ¿Comprar¿ apoio no Congresso, desviar recursos públicos e conceder vantagens a aliados em troca de ajuda financeira seriam as três principais metas, alega a denúncia. O dinheiro pagaria, ainda, dívidas do PT - acumuladas na campanha milionária que elegeu Lula em 2002.

Se havia um ¿núcleo principal¿, faltava o operador. Foi aí, redigiu Souza, que um ¿verdadeiro profissional do crime¿ - referência ao empresário Marcos Valério, dono da DNA e SMPB - ofereceu ¿os préstimos de sua própria quadrilha¿. A triangulação envolvia contratos de publicidade com o governo, estatais e outras fontes, como a Visanet.

Com a ajuda do Banco Rural, foram simulados empréstimos - entre 2003 e 2004, num total de R$ 55 milhões - para custear a propina. Os valores, porém, podem ser maiores. Segundo a CPI dos Correios, Valério movimentou mais de R$ 100 milhões.

Obstinado em se perpetuar no poder, alega o Ministério Público, o grupo pagou vultosas quantias a parlamentares do PP, PL, PTB e PMDB - além do próprio PT. Segundo a CPI, os primeiros repasses foram concentrados no PTB, enquanto a sua bancada crescia. Entre 3 de abril e 18 de junho, o total teria sido de R$ 3,6 milhões. Em 2004, a bancada do PP inflou. Os pagamentos teriam chegado a R$ 800 mil, de 20 de janeiro a 18 de fevereiro. O terceiro caminho mapeado pela CPI vinculou repasses a votações na Câmara.

Os acusados teriam recebido propina de variadas formas. Malas de dinheiro e saques na boca do caixa foram citadas em depoimentos à CPI. Só Roberto Jefferson, então presidente do PTB, contou ter recebido R$ 4 milhões de ajuda. Foi o ex-deputado que revelou o esquema - após uma entrevista que concedeu, em junho, a engrenagem da ¿organização¿ começou a ruir.