Título: Jefferson elogia STF, mas reclama de ter virado réu
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2007, Nacional, p. A10

Segundo ele, se tivesse ficado livre, poderia fazer mais revelações

Apesar da insatisfação com o fato de ter virado réu em processo penal referente ao escândalo do mensalão, o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) elogiou ontem o Supremo Tribunal Federal (STF). Em seu blog, afirmou que a Corte agiu democraticamente ao aceitar a denúncia contra os demais acusados de participação no esquema. Mas criticou o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por sua inclusão entre os processados.

Jefferson sugere que, se tivesse ficado livre da acusação, poderia fazer mais revelações. ¿Indicado e reconduzido por Lula ao cargo de procurador-geral, Antonio Fernando denunciou ministros e a cúpula do PT, mas incluiu meu nome, obrigando-me ao silêncio - a testemunha tem o dever de falar; o réu, de calar¿, escreveu.

Para o ex-deputado, se tivesse ficado fora do processo no STF, ele seria uma ameaça, como ¿uma voz forte demais a gritar contra esse governo podre do PT¿. Jefferson, que será processado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, afirmou que Souza, a quem chamou de ¿papa-hóstia¿, ¿deu uma no cravo e outra na ferradura¿.

Réu em vários crimes, o publicitário Marcos Valério garante que vai provar ¿que não cometeu os atos ilícitos que lhe são imputados¿. Em nota, afirmou que confia na Justiça e vai responder ao indiciamento ¿nas esferas competentes, sempre que for convocado, como sempre o fez¿. Valério evitou a imprensa.

Ontem, outros réus também comentaram a decisão do Supremo de abrir processos contra os 40 denunciados. O ex-deputado federal João Magno (PT-MG), que responderá por lavagem de dinheiro, alegou inocência. ¿Estou com a consciência tranqüila de que os recursos vieram do PT para mim e não lavei dinheiro¿. Magno foi acusado de receber R$ 426 mil das contas de Valério.

O ex-deputado José Borba (PMDB-PR), que renunciou para escapar da cassação, disse que o processo está ¿em boas mãos, na Justiça¿. ¿Nunca faltamos com a verdade.¿

Dizendo-se ¿tranqüilíssimo¿ em relação ao processo que terá de enfrentar, o ex-presidente do PP José Janene disse que a aceitação das denúncias era esperada. ¿A gente sabia que ia ser aceita de qualquer maneira. Acho que o Supremo agiu corretamente, pois vai dar oportunidade de provar a inocência de quem é inocente.¿

José Luiz Alves, ex-chefe de gabinete do ex-ministro Anderson Adauto e hoje presidente do Centro Operacional de Desenvolvimento e Saneamento de Uberaba (Codau), disse, em nota, que recebeu com ¿serenidade¿ o indiciamento por lavagem de dinheiro. Mas considerou que o ¿STF fez uma avaliação superficial do processo, calcada em indícios, não em fatos¿.

O deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) informou, por meio de sua assessoria, que reitera a sua posição de não fazer comentários sobre assuntos que estão sendo apreciados pelo Judiciário ou manifestações do Ministério Público. Procurados, outros réus não foram encontrados ou não atenderam a imprensa.