Título: Apesar da instabilidade, fundos de ações captam R$ 312 milhões
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2007, Economia, p. B3

Para analistas, investidor aproveitou queda de preços para estrear na bolsa; em toda a indústria de fundos, houve saída líquida de R$ 273 milhões

Apesar do tombo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nas últimas semanas, a captação líquida (aplicações menos resgates) dos fundos de ações no mês de agosto ficou positiva em R$ 312 milhões. Em toda a indústria de fundos, a captação ficou negativa em R$ 273 milhões, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira dos Bancos de Investimentos (Anbid) até o dia 22.

Segundo o vice-presidente da entidade, Marcelo Giufrida, o número é bastante confortável se comparado ao patrimônio do setor, acima de R$ 1 trilhão. Ele explica que, ao contrário de outras épocas, o que houve desta vez foi uma realocação dos recursos entre categorias de fundos. Enquanto os de renda fixa e multimercados registraram saídas de R$ 3,2 bilhões e R$ 2,6 bilhões, respectivamente, os fundos de curto prazo e os DI receberam R$ 1,3 bilhão e R$ 4,2 bilhões no período. 'Os números indicam uma mudança no comportamento do investidor, que está menos volátil comparado há alguns anos', afirma Giufrida.

No caso dos fundos de ação, analistas garantem que muitos investidores aproveitaram a queda dos preços das ações na bolsa para estrear no mercado. Segundo levantamento feito pela Economática, na metade do mês, no auge da crise financeira, o preço das empresas listadas na Bovespa havia caído de 14,4 vezes o lucro médio para 12,5 vezes. O presidente da empresa de informações financeiras, Fernando Exel, explica que, historicamente, essa relação entre preço/lucro médio sempre ficou em 10 vezes.

Segundo ele, a partir de 2006, esse número começou a subir muito. Saiu de 10,8 vezes em dezembro de 2005, subiu para 14,1 em dezembro de 2006 e bateu 15,4 em julho deste ano. 'É difícil explicar por que isso ocorreu, se é uma bolha ou se é resultado da queda do risco país', afirma Exel. Nos Estados Unidos, esse indicador fica na casa dos 20%. Em meados de agosto caiu para 18,2 vezes.

O vice-presidente da Sul América Investimentos, Marcelo Mello, afirma que a queda dos preços ativos do mercado acionário abriu boas oportunidades para investidores mais qualificados. 'Com a queda dos preços das ações, esses aplicadores tendem a elevar sua exposição no mercado. O contrário acontece entre os investidores do varejo que desfazem posições mais arrojadas e se refugiam em produtos mais conservadores', afirma ele, explicando o aumento das captações dos fundos DI.

Na avaliação dele, os bons fundamentos da economia, os resultados positivos das empresas e a demanda interna crescente reforçam as apostas no mercado de ações. 'As oportunidades vão continuar, especialmente nos momentos de realização de lucros', completa o executivo.

Para o economista da GAP Asset Management, Alexandre Maia, os resultados da indústria de fundos revelam um investidor mais maduro e com horizonte de longo prazo. 'A manutenção dos recursos é um bom sinal', afirma.

Mello destaca que esse momento mais turbulento é bom para os investidores avaliarem seu apetite ao risco, se estão no produto certo e se têm 'sangue frio' para agüentar o sobe-e-desce do mercado.

BALANÇO

R$ 312 milhões foi a captação líquida (aplicações menos saques) dos fundos de ações no mês de agosto, até o dia 22

R$ 273 milhões foi a saída líquida de recursos de toda a indústria de fundos

R$ 3,2 bilhões foi a saída de dinheiro dos fundos de renda fixa

R$ 2,6 bilhões foi a saída registrada nos fundos multimercados