Título: Lula deixa o México sem acordos concretos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2007, Economia, p. B5

Países não avançam na tentativa de aumentar comércio bilateral; cooperação em biocombustíveis fica no papel

Cidade do México - A aproximação entre Brasil e México não resultou em medidas concretas de ambos os governos para incrementar os números limitados do comércio e dos investimentos. Em sua visita de apenas um dia ao país, e que deu início a um giro pela América Central, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu apostar em um enfático apelo para a iniciativa privada promover a relação bilateral, tentou atrair a atenção do empresariado mexicano às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e saudou a iniciativa do México de voltar-se para as relações com sua vizinhança ao Sul. Mas não obteve sinais mais relevantes de seu anfitrião, o presidente do México, Felipe Calderón.

¿As empresas sabem das oportunidades extraordinárias e não podem ter medo de se transformar em empresas multinacionais. Isso é que nem garimpo: é preciso pesquisar e descobrir os nichos de oportunidades¿, defendeu Lula. ¿Mercado, nós temos, população trabalhadora, nós temos, competência tecnológica, nós temos. Então, o que falta para nós? Falta só uma coisa: ousadia. E uma outra coisa: acreditar no potencial de nossos países¿, disse, ao discursar na reunião do Conselho Empresarial Brasil-México.

Diante de pesos-pesados do empresariado do México e do Brasil, Lula e Calderón descreveram os cenários de estabilidade econômica de seus países e a oportunidade que a parceria bilateral traria para a redução de incertezas e para a inserção de ambos os países como protagonistas na ordem internacional. Animado, Lula expôs rapidamente os investimentos de US$ 504 bilhões estimados pelo PAC, em uma tentativa de animar empresários mexicanos a participar das obras previstas no programa. Calderón igualmente mencionou o plano nacional de infra-estrutura lançado no início de seu governo.

Mas, além da intenção da companhia aérea brasileira Ocean Air de iniciar vôos diretos de São Paulo para a Cidade do México em setembro e a aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN) ao ingresso do Banco Asteca no Brasil, nenhuma medida ultrapassou os limites dos discursos. A esperada cooperação em biocombustíveis, mencionada como uma possível base para a parceria México-Brasil, não foi firmada. Houve apenas uma menção genérica do tema no memorando de entendimento sobre energia e um compromisso de possível transferência de tecnologia brasileira de produção de biodiesel a partir do pinhão manso.

MERCOSUL

Diante das resistências do empresariado mexicano a um acordo de livre comércio com Brasil e Argentina, Calderón teve o cuidado de não reiterar o interesse de seu país em tornar-se membro associado do Mercosul. Os discursos de Lula e de Calderón giraram em torno de uma prioridade da agenda do presidente mexicano, de voltar-se mais para as relações com a vizinhança latino-americana e para os projetos orientados para a integração da região.