Título: Risco de fatalidade é maior em operação de emergência
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2007, Vida&, p. A12

Como êxito depende do estado inicial do paciente, médico diz que hospital não pode ser avaliado pelas mortes

O professor de cirurgia cardíaca e torácica da Universidade de São Paulo Noedir Stolf avalia que o estudo sobre mortalidade em cirurgias cardíacas no Brasil precisa ser analisado com ponderação. ¿Ele é importante para traçar um panorama geral da gestão dos serviços. Mas depende de uma análise posterior, mais detalhada¿, diz Stolf, que também é presidente do conselho diretor do Instituto do Coração (Incor).

Ele lembra que no próprio Incor, considerado de excelência no País e no exterior, as taxas de mortalidade variam de acordo com a urgência ou não do caso. Uma cirurgia de emergência tem índices de sucesso bem menores do que a marcada com antecedência. ¿Numa cirurgia de socorro, as chances de sucesso são bem menores do que as agendadas, onde todo o histórico do paciente é conhecido e alguns problemas já estão controlados.¿

No Incor são feitas 4 mil cirurgias anuais. As taxas médias de mortalidade são de 3,4% quando as operações são marcadas previamente e podem chegar a 8% em urgência. Assim como a consultora Regina Maria de Aquino Xavier, Stolf observa que, muitas vezes, o paciente no Brasil chega ao hospital em situação mais crítica do que em outros países.

Regina inicia agora outro estudo para justamente avaliar os parâmetros de sucesso das operações. O trabalho, com 12 hospitais, analisará 319 variáveis, desde as condições antes da operação até o pós-operatório. ¿As conclusões do estudo poderão ser instrumento útil para analisar a qualidade da assistência prestada¿, conta Regina.

ATUALIZAÇÃO

O consultor Antonio Luiz Ribeiro deverá terminar dentro de alguns meses a atualização dos dados de mortalidade nas cirurgias cardíacas no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim como Regina e Stolf, ele avalia que estudos gerais têm de ser analisados com critério. ¿Mas é um passo importante.¿ Ribeiro conta que consultores do ministério também estudam a possibilidade de acompanhar o desempenho de cada equipe que realiza esse tipo de cirurgia pelo SUS. Mas com cuidado para que tal processo não enfrente resistência ou seja considerado uma ¿caça às bruxas¿. ¿Caso contrário, a análise poderia fazer com que serviços recusassem pacientes críticos, justamente para evitar uma classificação ruim¿, diz.

Para o superintendente da Organização Nacional de Creditação, o médico Fábio Leite Gastal, o SUS tem uma lógica perversa de remuneração para hospitais, que acaba contribuindo com o desinteresse na qualidade dos serviços prestados. ¿Ao remunerar por serviços realizados, o SUS indiretamente beneficia aqueles interessados pela doença. Quanto mais pessoas se atende, mais se ganha¿, completa. E o ideal, afirma, seria o incentivo pela promoção da saúde. Algo que começa a ser feito com a mudança no pagamento para hospitais universitários que recebem um fixo por mês.

Com o sistema atual, administradores centram suas atenções nos procedimentos que remuneram mais. ¿Problemas com a qualidade ocorrem em todas as áreas, não só nas cirurgias cardíacas¿, completa. Gastal acredita que, para melhorar a qualidade, é preciso não só alterar a forma de remuneração, mas dar ênfase à fiscalização dos serviços. ¿Hospitais públicos são visitados pela Vigilância Sanitária, mas não recebem multas quando descumprem as exigências. Com impunidade, como exigir qualidade?¿, questiona.

O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Cláudio Maierovitch, diz que por lei não há como fazer tal cobrança. ¿É preciso pensar o que faria a população sofrer mais: interditar o estabelecimento ou dar um prazo para que ele se adapte às exigências.¿

FRASES

Noedir Stolf professor de Medicina da USP

`Numa cirurgia de socorro, as chances de sucesso são bem menores do que as agendadas, onde todo o histórico do paciente é conhecido¿

`É importante (o estudo) para traçar um panorama dos serviços. Mas depende de análise mais detalhada¿