Título: 'Contas das promessas de Lula não fecham'
Autor: Fernandes, Adriana e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2007, Nacional, p. A6

O anúncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem, de elevar em R$ 4,7 bilhões os programas assistenciais em 2008 ¿parece mais um exercício de palanque¿, avaliou ontem o cientista político Amaury de Souza, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Para ele, ¿as promessas são muitas e as contas não fecham. Ele anuncia mais dinheiro para o Bolsa-Família, já fez promessas ao funcionalismo, quer subir o salário-mínimo, os gastos do governo aumentam... Acho difícil que tenha recursos para levar tudo isso avante¿.

O pesquisador acredita que o anúncio ¿pode ter sido feito para desviar a atenção do grande fato da semana, que foi o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal¿. Ele lembra que o presidente ¿também prometeu R$ 2 bilhões para a saúde e depois nada se falou a respeito¿.

Como ele, os analistas Fátima Pacheco Jordão, da FPJ - Fato, Pesquisa e Jornalismo, e Rubens Figueiredo, do Cepac, não se entusiasmam com as promessas presidenciais. ¿Há um enorme equívoco nessa ênfase ao Bolsa-Família¿, diz Figueiredo. ¿O governo devia é aprender com os tigres asiáticos, reduzir o Estado, investir maciçamente em educação e capacitar as camadas pobres a produzir e criar renda¿.

O anúncio de Lula mostra, segundo Fátima Jordão, que ele ¿continua focando sua mensagem na comunicação, em sua personalidade e nas políticas compensatórias. Mas o que se percebe é que não há uma política de longo prazo¿. Ela e Figueiredo não levam a sério a comparação que o presidente faz entre seu governo e o de Getúlio Vargas. ¿Ao contrário de Getúlio, ele atrasa a infra-estrutura e está deseducando o povo¿, alerta Figueiredo. ¿Basta ver o lugar do Brasil nos resultados de pesquisas educacionais internacionais¿.