Título: Influência de venezuelano prejudica Evo
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2007, Internacional, p. A20
Para analistas, amizade do boliviano com Chávez é uma das causas de impasse na Constituinte
A influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Bolívia está começando a ser um problema para o governo de seu colega Evo Morales. Assim como o líder venezuelano, Evo convocou no ano passado uma Assembléia Constituinte para 'refundar o país' e buscar a possibilidade de reeleição. No entanto, o processo para a mudança de leis está causando um dos maiores impasses da administração de Evo até o momento. Segundo analistas, a polêmica aliança entre os dois presidentes tem parte da culpa.
A impossibilidade de o governo e a oposição chegarem a um consenso em relação às novas leis fez com que a entrega da Carta fosse adiada de agosto para dezembro.
De acordo com especialistas, a influência excessiva de Chávez nos assuntos internos bolivianos - e sobre o próprio Evo - é uma das causas desse impasse. 'A oposição boliviana tem uma posição hostil em relação à amizade dos dois presidentes e, por isso, quer frear as idéias governistas por acreditar que são influenciadas pelo líder venezuelano', afirmou ao Estado, por telefone, o cientista político da Universidade Mayor de San Andrés, em La Paz, Carlos Cordero.
'CAUDILHISMO'
Outro cientista político boliviano, que não quis ser identificado por medo de ser colocado em uma 'lista negra' do governo, acredita que Evo quer destruir o sistema político da Bolívia, 'assim como Chávez fez' na Venezuela. 'Evo quer implementar o caudilhismo no país', disse ele. 'No entanto, a oposição não vai permitir que Evo repita os passos de Chávez porque já percebeu que é isso o que ele quer fazer.'
No entanto, o analista político Carlos Toranzo, da Fundação Friedrich Ebert, afirma que, apesar de a oposição não gostar da ingerência chavista no país, recebe sem reclamar o dinheiro proveniente da Venezuela - foi do governo de Chávez que vieram os cheques de US$ 100 mil a US$ 150 mil que Evo distribuiu aos municípios mais pobres da Bolívia.
Para Cordero, a influência do presidente venezuelano está condicionada diretamente aos recursos que ele dá a Evo - entre eles, um helicóptero que o líder boliviano utiliza para viajar pelo país. 'A ingerência de Hugo Chávez vem justamente da economia e da ideologia do líder venezuelano', afirmou Cordero.
Toranzo assinalou que a amizade entre Evo e Chávez prejudica a imagem da Bolívia no exterior e disse acreditar que o governo boliviano não se dá conta da violação da soberania do país. 'Evo não está percebendo como é prejudicial essa intromissão de Chávez', afirmou. 'A classe média não gosta de Chávez e não está contente com a grande influência que ele tem no país.' O analista estima que, com o passar do tempo, a maior parte da população boliviana acabará criando uma grande rejeição à imagem de Hugo Chávez.
Para Cordero, mesmo sendo semelhantes às de Chávez, as ações de Evo não devem surtir o mesmo efeito na Bolívia. O cientista político explicou que a realidade social dos dois países é distinta. 'A Venezuela tem um governo autoritário, com a sociedade submetida a ele', afirmou. 'Já a Bolívia tem uma sociedade ativa e participante das políticas do país.'