Título: Alta da inflação esquenta apostas sobre juros
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2007, Economia, p. B10

Para alguns analistas, últimos índices podem reduzir ou até parar cortes

Os índices de inflação de agosto que já foram divulgados surpreenderam os economistas e reacenderam o debate sobre o rumo da taxa básica de juros (Selic).

Muitos analistas defendem que o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompa o ciclo de cortes da taxa - 17, de setembro de 2005 para cá - após a reunião desta semana. Para esse encontro, que começa terça-feira e termina quarta-feira, há um consenso de que a Selic cairá de 11,50% para 11,25% ao ano.

A polêmica começa aí. Parte dos especialistas defende que o Copom pare nesse nível e analise as condições da economia para voltar a reduzir o juro mais adiante ou até mesmo elevá-lo. Outros profissionais e integrantes do governo, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rechaçam a hipótese. Segundo eles, a alta acima do esperado deve-se a fatores sazonais. Portanto, a Selic pode seguir caindo.

Só o tempo dirá quem tem razão. Mas, se o BC tiver de colocar um ponto final no ciclo de reduções da Selic, todos os economistas terão de reavaliar a chamada taxa de juros de equilíbrio no Brasil. Em uma definição simples, trata-se do nível de juro que mantém a economia estabilizada, sem pressão inflacionária. É expressado pela taxa real, que desconta a inflação.

Hoje, a taxa real de juros no País está perto de 7,5% ao ano, a segunda mais alta do planeta, atrás da Turquia. A média internacional é de 2,4%. ¿Ninguém sabe qual é a taxa de equilíbrio no Brasil, pois houve muitas mudanças nas economias brasileira e mundial nos últimos anos¿, afirma o diretor para mercados emergentes do Banco Goldman Sachs, Paulo Leme. ¿Não se sabe qual é e é difícil de estimar¿, emenda o economista-chefe do Banco ABN Amro para América Latina e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman.

A última pesquisa do BC com analistas mostra que a expectativa da maioria é de que a Selic encerrará 2008 em 9,75%. A inflação medida pelo IPCA, o índice oficial do País, é estimada em 4%. Nesse caso, a taxa real de juros estaria em 5,5% em dezembro de 2008. Poderia se dizer, portanto, que o juro de equilíbrio, naquele momento, seria de 5,5%. Mas, se o BC interromper mesmo os cortes, esse porcentual será maior.

¿O Brasil acostumou-se a ter uma taxa real de juros elevada, que chegou a 15% ao ano entre 1994 e 1998¿, diz o economista da Tendências Consultoria Juan Jensen. ¿Mas ainda é cedo para pensarmos que a taxa de equilíbrio será tão maior aqui que em países como Chile, onde é de 2%, e México, de 3,5%.¿

Schwartsman é um dos economistas que têm demonstrado maior preocupação com a inflação. Na semana passada, escreveu um relatório no qual contraria a idéia de que a alta se deve a choques de oferta. ¿O que temos hoje é um choque de demanda¿, diz. ¿Ainda não posso dizer com certeza que o juro terá de subir em 2008, mas é certo que a inflação se aproximará da meta (de 4,5%).¿

Como diretor do BC entre novembro de 2003 e abril de 2006, Schwartsman era considerado um dos `falcões¿, ou seja, estava entre os mais duros no combate à inflação. É criticado por muitos por essa posição. Ele não parece se importar. E avisa: ¿Falcões enxergam longe.¿