Título: Vítimas pedem danos morais
Autor: Cançado, Patrícia e Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2007, Economia, p. B16

Segundo advogada, esposas também adoeceram

Há quase 15 anos, os ex-funcionários da Nuclemon enfrentam longas filas para ser atendidos em postos de saúde, levam meses para agendar uma tomografia ou saber o resultado de um exame. Pior: convivem com o medo de estar com uma bomba relógio no corpo. ¿Quando tem enterro de amigo da Nuclemon, a gente fica em suspense. Se tenho dor de barriga, penso: será que é minha vez? ¿, comenta Milton Guadalupe, 48 anos, e aposentado desde 2003 pela Nuclemon por invalidez.

O plano de saúde é a reivindicação urgente. No processo, os ex-empregados também pedem duas indenizações, uma pela perda da capacidade de trabalho, de 390 salários contratuais corrigidos, e outra por danos morais, cujo valor ainda não foi calculado, mas não deverá ser inferior a mil salários. Segundo uma advogada de acusação, muitas das esposas adquiriram problemas de pele porque lavavam roupa dos maridos e algumas desenvolveram tumores.

¿A ação sai do comum pela importância da matéria: a produção de energia nuclear no Brasil, com graves efeitos epidemiológicos em significativa população trabalhadora. E a necessidade de impor imediatamente norma de direito internacional no Brasil¿, diz, no processo, o advogado Luís Carlos Moro, do escritório Moro e Scalamandré.

Segundo a professora de física nuclear da USP, Emico Okouno, é muito difícil provar a relação entre as doenças e a radiação. ¿Mas a radiação ionizante, seja qual for a dose, é comprovadamente cancerígena. Tem gente que desenvolve a doença e tem gente que não.¿

O processo ainda está no início na 12ª Vara do Trabalho de São Paulo. Até o momento, a única decisão julgada foi a do plano saúde, inicialmente contestada pela empresa. A decisão, no entanto, continua valendo. Um dos argumentos da empresa era o fato de os funcionários não trabalharem mais na usina.

Críticos da empresa dizem, porém, que os problemas demoram a aparecer porque ela foi negligente nos exames demissionais. ¿Os funcionários mais velhos foram submetidos a um exame de corpo inteiro, que não detecta o tipo de radiação a que eles estavam expostos¿, diz o físico Robson Spinelli, cedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para trabalhar na INB entre 2003 e 2006. ¿O exame de fezes e urina coincidentemente só foi feito nos mais jovens¿, ironiza. ¿Conclusão: o resultado final ficou prejudicado e todos foram dispensados sem problemas.¿