Título: Os trabalhadores estão órfãos
Autor: Cançado, Patrícia e Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2007, Economia, p. B16

Os defensores da causa trocaram a oposição pelo governo

Os trabalhadores da antiga Nuclemon enfrentam uma dificuldade extra em sua briga. Boa parte dos médicos, físicos, sindicalistas e ativistas políticos que os ajudavam a questionar a estatal agora está no governo. ¿Os trabalhadores ficaram órfãos¿, diz a auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi, que acompanha os ex-funcionários da estatal há cerca de 15 anos.

Até o início do governo Lula, vários especialistas e ativistas respeitados participaram das denúncias contra a política nuclear ou contra a Nuclemon. Mas hoje os trabalhadores têm dificuldades para encontrar profissionais graduados que possam dar apoio técnico e político à sua causa - além de sentirem falta de maior participação dos sindicatos.

O físico Luiz Pinguelli Rosa, por exemplo, participou das denúncias sobre o depósito de lixo atômico da Nuclemon em Poços de Caldas, Minas Gerais. Outro físico, Ildo Sauer, participou de audiências públicas sobre a má gestão do programa nuclear. Ruy de Góes, do Greenpeace, manifestou-se contra o lixo atômico em Poços de Caldas. Os especialistas mobilizados contra a programa nuclear eram conhecidos como ¿os nucleocratas¿.

Hoje, Rosa é coordenador geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, órgão ligado à Casa Civil da Presidência da República. Sauer é diretor de Gás e Energia da Petrobrás. E Góes é diretor da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.

O exemplo mais emblemático entre os sindicalistas é o de João Manuel Gonçalves Barbosa, que era da Comissão Nacional dos Trabalhadores de Energia Nuclear, organização que fazia oposição à CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Barbosa virou assessor da presidência da estatal INB (Indústria Nucleares do Brasil, antiga Nuclemon), que é controlada pela própria CNEN. Hoje está de volta ao sindicalismo.

Mesmo mantendo seu ponto de vista, os médicos, físicos, sindicalistas e ativistas já não têm a mesma liberdade ou entusiasmo para se manifestar. ¿Os trabalhadores da Nuclemon perderam grandes quadros. Havia uma oposição frenética, mas muitos profissionais independentes tiveram de abrandar suas posições¿, diz Fernanda.

Para mover o processo contra a Nuclemon, os ex-funcionários tiveram de recorrer a um advogado que não era ligado a sindicatos. Procurado por Fernanda Giannasi, o advogado Luiz Carlos Moro aceitou mover a ação de forma `pro bono¿, ou seja, de graça.