Título: IBGE vê 'acomodação' na indústria
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2007, Economia, p. B4
Queda de 0,4% na produção em julho quebra trajetória de nove altas, mas para analistas não acende sinal amarelo.
A produção industrial recuou 0,4% em julho ante junho, quebrando uma trajetória de nove expansões consecutivas na comparação com o mês anterior. A queda foi recebida com tranqüilidade por economistas e pelo chefe da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, que considera o resultado uma 'acomodação'. Ante julho de 2006, a produção cresceu 6,8%, o melhor resultado desde dezembro de 2004.
'Não há nenhum sinal amarelo no conjunto de indicadores (da economia) que leve a acreditar que vá perdurar essa tendência (de queda)', observou Sales. Segundo ele, resultados recentes do comércio varejista, de produção automobilística, de vendas industriais, utilização de capacidade e expectativa de empresários 'são favoráveis a uma trajetória positiva no nível de atividade, puxada pela demanda interna'.
Enquanto a produção de alimentos e refino de petróleo puxou a queda ante junho, o bom desempenho dos bens de consumo duráveis, sobretudo automóveis, garantiu a expansão ante julho do ano passado.
Segundo Sales, os fatores que levaram ao recuo ante junho são pontuais, enquanto a continuidade do crédito, aliada ao alongamento dos prazos de financiamento, garantiu a expansão nos demais indicadores. No acumulado de janeiro a julho, a produção cresceu 5,1% e, em 12 meses, 4,2%.
REDUÇÃO NATURAL
O economista-sênior da Itaú Corretora, Maurício Oreng, disse ver com naturalidade a redução do ritmo da produção industrial em julho ante junho. 'Não é porque estamos em uma trajetória de crescimento que a indústria terá de acelerar o ritmo todos os trimestres', disse.
Marcela Prada, da Tendências Consultoria, considera a queda 'apenas uma acomodação da produção em patamar elevado'.
Para Cassiana Yumi Hernandes, economista da Mauá Investimentos, os números da indústria confirmam o crescimento do setor, 'mas sem explosão'.
Economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destacaram em documento que os resultados 'devem ser interpretados antes como um freio parcial do processo de evolução industrial em curso do que como um retrocesso'. Afirmaram, ainda, que 'importante é que os mais recentes dados da evolução industrial não evidenciam qualquer tendência explosiva de crescimento econômico'.
FREIO
Entre os segmentos que puxaram para baixo os resultados de julho ante junho, os alimentos registraram queda de 2,5% na produção, influenciada sobretudo pelo açúcar, o que Sales acredita poder estar relacionado a algum deslocamento de período de safra. No refino de petróleo (-3,5% em julho ante junho), Sales disse que os dados de comércio exterior mostram que o abastecimento de derivados de petróleo no mercado doméstico está ocorrendo mais via importação do que produção interna. Além disso, segundo ele, em julho houve paralisação técnica em uma refinaria, o que pode ter afetado esse resultado.
A acomodação da indústria em julho não inverteu a curva ascendente de investimentos. Para Sales, os dados da produção de bens de capital em julho, com 'crescimento generalizado a dois dígitos', aliados ao crescimento das importações, 'mostram ambiente positivo de investimentos'.
Houve queda de 1,3% na produção de bens de capital em julho ante junho, mas aumento de 19% na comparação com julho de 2006. Ante igual mês de 2006, houve expansão em todos os subsetores dessa categoria.
Sales sublinhou que, no acumulado de janeiro a julho deste ano, as importações de bens de capital como um todo cresceram 26% ante igual período do ano passado, com destaque para maquinaria industrial e partes e peças para bens de capital para indústria.
COLABORARAM FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E FLAVIO LEONEL