Título: Discussão sobre aborto é única polêmica do evento
Autor: Rosa, Vera e Tostav, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2007, Nacional, p. A4
Na única votação que lembrou o PT dos tempos de oposição, com debates acalorados, gritos e vaias no plenário, o 3º Congresso decidiu ontem apoiar a descriminalização do aborto e sua regulamentação pela rede pública de saúde.
Defendida pela ministra de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e pela deputada Iriny Lopes (ES), a proposta foi aprovada por ampla maioria, em mais um movimento da legenda em direção à esquerda e aos movimentos sociais.
¿Estou aqui defendendo o direito à vida e à cidadania porque as mulheres não podem fazer abortos clandestinos¿, disse Matilde. ¿É um crime, é um homicídio¿, rebateu a ex-deputada Ângela Guadagnin, que combateu a proposta. Recebeu um misto de aplausos e vaias e foi voto vencido.
ACORDO
Na tentativa de costurar o acordo, o termo ¿legalização¿ foi substituído por ¿descriminalização¿. No microfone, o deputado Odair Cunha (MG) pediu que o PT não mexesse nesse vespeiro. Foi vaiado. ¿Eu respeito os argumentos de vocês e gostaria que vocês respeitassem os meus¿, afirmou Cunha.
A proposta aprovada desagrada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já se posicionou várias vezes contra o aborto, e enfrenta resistências no governo. Mas o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, já defendeu publicamente a legalização do aborto.
Durante a discussão, mulheres favoráveis à proposição chegaram a formar um cordão em frente do palco onde ficava a mesa que comandava os trabalhos.
A vitória foi saudada com um velho grito de guerra petista, ligeiramente modificado: ¿Partido, partido, é das trabalhadoras¿. ¿É importante que o PT tenha um posicionamento,¿, disse Matilde. ¿Essa é uma questão da sociedade e não só do PT.¿