Título: Moda made in Brazil carimba passaporte
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2007, Economia, p. B3

Estilistas fazem sucesso em desfile no Japão, mas preço alto é obstáculo

Uma jovem grife criada há apenas três anos, a Amonstro, foi uma das estrelas da Brasil Fashion Now, uma feira de moda brasileira que por dois dias e meio ocupou parte de um shopping na avenida Omote-sando, o equivalente japonês aos Champs Elysées de Paris ou à rua Oscar Freire em São Paulo. As donas da marca, as estilistas Helena Pimenta e Lívia Torres, venderam quase todos os modelos a uma lojista que sequer perguntou o preço das peças. A estilista Isabela Capeto, que já vende suas criações em 15 pontos de venda no Japão, também agradou a platéia.

A abertura do evento, na noite da última terça-feira, atraiu mais do que os 500 convidados previstos. Numa produção esmerada, a cantora descendente de japoneses Fernanda Takai, do grupo Pato Fu, interpretou canções gravadas por Nara Leão durante o desfile do estilista Ronaldo Fraga, que passou um mês no país e descobriu que as costureiras trabalham com um penico próximo à cadeira para não interromper a produção.

Festa à parte, o Brasil Fashion Now, promovido pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) em conjunto com as associações da Indústria Têxtil (Abit), de Calçados (Abicalçados) e do Vestuário (Abravest) terminou com um saldo de US$ 1,5 milhão em vendas imediatas. A cifra é modesta perto dos US$ 53 bilhões em produtos de alta moda importados pelo Japão no ano passado.

Porém, o objetivo do evento era chamar a atenção dos japoneses para os nomes brasileiros. O momento é favorável porque a imprensa tem dado atenção ao País desde a Copa de 2002, diz Naoki Tamura, da Nissei Corporation, empresa que distribui as marcas Cia. Marítima, Ellus e O Boticário.

Embora difícil, o mercado Japão vale a pena, segundo o presidente da Apex, Alessandro Teixeira. 'O Japão dita tendência no mercado asiático', disse. 'A estratégia é avançar para a Coréia do Sul e para a China.'

O custo é um empecilho ao crescimento da moda brasileira no mercado internacional, segundo o português João Santos, da HP France, uma empresa que há 20 anos importa roupas do mundo inteiro para o Japão. Ele avalia que o momento é bom para as empresas brasileiras, pois há 20 anos os japoneses consomem moda européia e querem algo novo. As criações brasileiras agradam, mas têm preços parecidos com os cobrados por marcas famosas e prestigiadas como Dior ou Dolce & Gabbana.

O dólar barato, desfavorável às exportações, é queixa geral dos estilistas. Mas não é o único problema. Santos observa que, por serem de pequeno porte, as grifes brasileiras não têm produção em escala para baixar seus custos. E, novamente, existe o fator China. Grifes européias, ao contrário das brasileiras, aproveitam a mão de obra barata dos chineses.