Título: Crise deve atingir a economia real, diz Rhodes
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2007, Economia, p. B8
Para o presidente do Citigroup, bancos centrais terão de intervir para evitar conseqüências piores
A crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos ainda não terminou e vai contaminar a economia real, afirmou ontem o presidente do Citigroup, William Rhodes. Ainda não se pode avaliar a extensão do estrago, ressalvou o banqueiro, e isso dependerá, em boa parte, de como os consumidores americanos forem afetados. Os bancos centrais mais poderosos, segundo ele, terão de pôr dinheiro no mercado para evitar conseqüências piores.
Os próprios bancos centrais são os vilões da história das crises financeiras dos últimos 10 anos, disse o presidente do banco Morgan Stanley para a Ásia, Stephen Roach, ele mesmo um ex-economista do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). ¿Quando eu estava no Fed não se toleravam bolhas¿, disse Roach.
Os bancos centrais, segundo ele, não acompanharam as mudanças da economia mundial. Seus dirigentes continuaram voltados para os índices de preços ao consumidor, em vez de darem atenção aos preços dos ativos.
Com isso, deram espaço à especulação desenfreada, facilitaram a eclosão de crises e foram forçados, depois, a sair em socorro dos imprudentes. O Fed, segundo Roach, está repetindo esse roteiro. Para evitar conseqüências piores, deverá cortar 0,25 ponto dos juros básicos na próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto.
William Rhodes, veterano de muitas crises, incluída a quebra do México, do Brasil e de vários outros endividados no começo dos anos 80, preferiu jogar parte da responsabilidade sobre os avaliadores de risco das instituições financeiras. Eles têm sido menos severos do que deveriam, segundo o banqueiro.
Os dois participaram, ontem, de um debate sobre o panorama internacional na reunião promovida pelo Fórum Econômico Mundial em Dalian, um moderno centro financeiro e portuário no norte da China.
O único otimista no debate foi o presidente do China Ocean Shipping Group, Wei Jiafu. De acordo com ele, a economia chinesa poderá crescer menos nos próximos anos, mas conseguirá manter um ritmo superior ao da média mundial. Por enquanto não há, na China, um sinal de enfraquecimento dos negócios.
No primeiro semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em ritmo equivalente a 11,5% ao ano. E poderá chegar a 12,6% na segunda metade do ano, segundo projeções correntes no mercado financeiro.
Mas a inflação no país também está se intensificando e a alta dos preços por atacado poderá chegar a 12,3% até o fim do ano, de acordo com estimativa do banco Goldman Sachs. De janeiro a junho os preços ao consumidor tiveram um aumento de 3,5%, puxados principalmente pelas cotações dos alimentos.