Título: Surto de dengue no Brasil preocupa muito, diz OMS
Autor: Chade, Jamil e Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2007, Vida &, p. A17

Entidade teme que número de casos supere o de 2002 e apela para que o País aumente investimentos em infra-estrutura e ações preventivas.

Genebra - A Organização Mundial da Saúde (OMS) está preocupada com a proliferação dos casos de dengue no Brasil e alerta que o problema não será solucionado enquanto não houver uma mudança profunda na infra-estrutura sanitária das grandes cidades do País. A entidade, com sede em Genebra, já teme que o surto de 2007 possa superar a marca da doença em 2002, ano em que o Brasil teve recorde de casos.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e julho deste ano foram 438.949 casos, um aumento de 45,12% em relação ao mesmo período de 2006. Somando-se a esse número os registros do início de agosto, o total chega a 442.757. O Estado mais atingido é Mato Grosso do Sul, com 72,2 mil registros, seguido de São Paulo, com 62,2 mil, maior número da história no Estado (veja quadro ao lado). Em 2002, o Brasil teve cerca de 791,2 mil casos.

¿A dengue hoje é uma grande preocupação¿, alerta José Luis San Martin, conselheiro regional da OMS sobre a situação de dengue nas Américas. Em sua avaliação, a proliferação da dengue é um ¿problema de desenvolvimento¿. ¿ A dengue está ligada à urbanização descontrolada, falta de esgoto e outros aspectos sociais. Por isso, não é apenas um problema de saúde e uma solução definitiva somente será encontrada quando a estratégia incluir medidas concretas em temas de meio ambiente, infra-estrutura, educação e ações sociais¿, disse San Martin.

Na OMS, o apelo é também para que haja maiores recursos, além de ações preventivas. ¿Não adianta lançar campanhas de conscientização quando o surto já está ocorrendo com uma proporção significativa. Isso seria apenas evitar que o fogo se espalhe mais. O que precisa ser feito é evitar que o fogo comece¿, afirmou Renu Dayal-Drager, outra especialista em dengue na OMS.

Um dos problemas enfrentados na América do Sul, segundo ela, é a falta de capacidade para lidar com o problema em alguns países da região, como Paraguai. Portanto, mesmo se o vetor da doença for combatido no Brasil, o País não estará isento até que seus vizinhos também possam frear a proliferação.

¿Precisamos investimentos. Caso contrário, não vemos outra tendência senão a de um crescimento a cada ano do número de pessoas afetadas¿, disse a especialista. ¿Desde 1950, vemos que os casos de dengue no mundo duplicam a cada década.¿ Segundo ela, o surto da doença está atingindo várias regiões do mundo neste ano, incluindo Camboja, América Central e África.

BOM EXEMPLO

Apesar dos dados alarmantes em nível nacional, alguns Estados e municípios têm feito a lição de casa. Depois de viver um surto no ano passado, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, conseguiu reduzir drasticamente o índice de infestação do mosquito Aedes aegypti e o número de casos com medidas tradicionais e alternativas.

Entre as ações, o coordenador do programa municipal de combate à dengue, José Humberto Arruda, destaca o trabalho de vedação de caixas de água e o recolhimento de pneus - feito em parceria com borracharias e imobiliárias, que facilitam a entrada de agentes em imóveis fechados para a venda ou aluguel. Outra medida foi adicionar óleo de cozinha à água na composição do ¿fumacê¿, inseticida aspergido contra o mosquito, para perdurar a presença e o efeito.

No início de 2006, o índice de infestação atingiu 6,9% e, até março, havia 3.515 casos. Em março deste ano, o índice foi de 1,1%. Atualmente está em 0,2%, ou seja, bem abaixo do 1% estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).