Título: Vitória das vítimas de radiação
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2007, Economia, p. B6

Justiça obriga Nuclemon a mudar plano de saúde.

Os ex-funcionários da estatal Nuclemon (hoje Indústrias Nucleares do Brasil, INB, processadora de vários materiais radioativos) devem finalmente receber um plano de saúde válido em São Paulo, cidade onde moram. A Justiça determinou que a empresa entregue, em até 15 dias, um novo convênio, sob pena de multa diária de R$ 5 mil por funcionário.

Há cerca de um mês, conforme reportagem publicada pelo Estado no domingo, 63 ex-empregados que movem ação contra a Nuclemon receberam pelo correio um plano de saúde aceito apenas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Enquanto trabalharam para a Nuclemon, eles foram expostos a todo tipo de risco, desde a perda da audição por excesso de ruído até câncer por exposição ao material radioativo sem as mínimas condições de segurança.

Um relatório sobre o setor nuclear produzido pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados compara a situação dos trabalhadores às vítimas do Césio 137. 'O que mais me assombra é o grau de insensibilidade da gestão pública do País', afirma o advogado da acusação, Luís Carlos Moro.

O advogado da INB, Marcus Vinícius Capobianco, disse que a empresa já está providenciando o novo plano e vai dispensar licitação por conta do prazo curto. 'Por ora, não vamos reagir à decisão, embora seja uma aberração jurídica.

Na Justiça, os funcionários podem mover ações em até dois anos depois de terem saído da empresa, mas o Juiz afastou a prescrição', diz Capobianco. 'No campo humano, não é abusivo. Mas no campo da Justiça é uma aberração.'

Nas pessoas expostas à radiação, os problemas podem aparecer até 30 anos depois da exposição. Críticos da empresa dizem também que os problemas demoraram a aparecer porque a Nuclemon foi negligente nos exames de demissão.

'Os funcionários mais velhos fizeram exame de corpo inteiro, que não detecta o tipo de radiação a que estavam expostos', diz o físico Robson Spinelli, cedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para trabalhar na INB entre 2003 e 2006. 'O exame de fezes e urina coincidentemente só foi feito nos mais jovens, o que prejudicou o resultado final.'