Título: Centenário da Arquidiocese de São Paulo
Autor: Scherer, Dom Odilo P.
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2007, Espaço Aberto, p. A2

A Diocese de São Paulo foi criada pelo papa Bento XIV em 1745, ainda durante o período colonial; sua elevação a Arquidiocese e sede de província eclesiástica foi pleiteada pelo clero e pelo povo paulista logo após a Proclamação da República e se concretizou com a decisão do papa São Pio X no dia 7 de junho de 1908; até então, era a única Diocese do Estado de São Paulo. Portanto, a Arquidiocese de São Paulo está comemorando o ano centenário de sua criação.

Naquela mesma ocasião, São Pio X criou cinco Dioceses novas no Estado, desmembrando-as da Arquidiocese, para integrarem a nova província eclesiástica: Campinas, Taubaté, Botucatu, São Carlos e Ribeirão Preto; todas elas também comemoram seu ano centenário.

As Arquidioceses, na organização da Igreja Católica, são sedes de províncias eclesiásticas, que congregam várias Dioceses e outras circunscrições eclesiásticas de uma região, com o objetivo de facilitar as relações entre os bispos daquela área e promover uma ação pastoral comum entre as Dioceses. No contexto brasileiro, São Paulo é o Estado que apresenta o maior número de Dioceses: ao todo são 44, reunidas em seis províncias eclesiásticas.

É fato notório que nestes últimos cem anos foram erigidas no Estado nada menos que 43 circunscrições eclesiásticas. A bem da verdade, a organização da Igreja, não apenas em São Paulo, mas em todo o Brasil, só conseguiu deslanchar depois da separação entre Igreja e Estado, com a Proclamação da República. Até então, existiam no Brasil somente 12 Dioceses. Atualmente são 270!

Pelo regime do Padroado, vigente até 1889, a Igreja estava sob a tutela do Estado. O fim do Padroado, com o advento da República, foi traumático para a Igreja, mas reverteu em grande benefício para ela: livre do controle e da ingerência do Estado, a Igreja passou a se organizar e se manifestar segundo seu dinamismo próprio. A separação entre Igreja e Estado foi saudável para o desempenho autônomo das suas atribuições.

A criação, em 1908, das cinco novas Dioceses no Estado de São Paulo e da província eclesiástica homônima, com sede na capital, devia favorecer um atendimento religioso mais adequado à população. Não era mais possível que um único bispo acompanhasse sozinho toda a população católica do Estado; essa, de fato, vinha aumentando rapidamente, sobretudo por causa do grande número de estrangeiros e de migrantes de vários Estados brasileiros, que chegavam a São Paulo e faziam surgir novos núcleos urbanos no interior. A própria capital entrava num ciclo de acelerado crescimento urbano e industrial.

Durante o século de sua existência, a Arquidiocese de São Paulo já foi governada por seis arcebispos: dom Duarte Leopoldo e Silva (1907-1938), dom José Gaspar D¿Afonseca e Silva (1939-1943) e os cardeais Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1944-1964), Agnelo Rossi (1964-1970), Paulo Evaristo Arns (1970-1998) e Cláudio Hummes (1998-2006). Cada um deles marcou São Paulo com sua espiritualidade e sua atuação pastoral, deixando uma rica herança de vida religiosa na cidade. O sétimo arcebispo tomou posse do cargo no dia 29 de abril de 2007.

A presença da Igreja Católica foi significativa desde os primórdios da História da cidade de São Paulo, que nasceu ao redor de uma pequena missão dos padres jesuítas, no século 16. Desde então, a contribuição da Igreja não foi apenas religiosa, mas também cultural e social, com forte acento na educação e na promoção da dignidade humana - a Igreja participou da educação da infância e da juventude nas numerosas escolas e colégios, muitas vezes ligados às ordens e congregações religiosas; a Pontifícia Universidade Católica e as diversas faculdades e institutos de ensino superior ligados à Igreja contribuíram para a formação de lideranças; as paróquias e os centros comunitários, muitas vezes, se tornaram referências nos bairros, por meio de seus centros comunitários e obras sociais. Desde logo, a Arquidiocese destacou-se por sua atuação junto à população pobre e pela defesa dos direitos humanos contra toda forma de violência; com as demais organizações da sociedade, procurou participar da construção da sociedade. Além disso, boa parte do patrimônio artístico da cidade está ligado às igrejas e suas organizações, como se pode ver no Museu de Arte Sacra.

O ano centenário é uma boa ocasião para conhecer e valorizar a história e a atuação da Arquidiocese de São Paulo. Um calendário com numerosos eventos ajudará a lembrar e valorizar os principais personagens e fatos ligados a essa história; além de celebrações e atos religiosos, também estão previstos eventos e iniciativas culturais e o incentivo à pesquisa histórica. Entre outros pontos do programa, uma exposição fotográfica já foi organizada pelo Arquivo Histórico Metropolitano, mostrando imagens marcantes da Igreja em São Paulo durante o século 20.

São Paulo é uma cidade é cosmopolita, pluralista e dinâmica, onde convivem numerosas raças, etnias e religiões; usam-se as tecnologias mais avançadas, mas persistem formas rudimentares de organização da vida; em São Paulo coexistem riqueza e alta capacidade de consumo com a miséria e condições de vida aviltantes para grande parte da população. A Igreja Católica deseja continuar a contribuir para que esta cidade seja cada vez mais humana, justa e solidária, ajudando a edificar convivência e a orientar as atividades de acordo com o desígnio de Deus. A mensagem do Evangelho de Jesus Cristo é sempre uma ¿boa notícia¿ para o povo da cidade; por isso os católicos de hoje querem compartilhá-la, ainda e de novo, com os demais cidadãos e permear com ela os ambientes da vida e da organização da sociedade. Como fizeram aqueles que os precederam.