Título: Na Áustria, papa volta a condenar eutanásia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2007, Vida&, p. A15

Convocando a Europa a não perder suas `raízes cristãs¿, Bento XVI também discursou contra o aborto e a `globalização desenfreada¿

O papa Bento XVI disse ontem em discurso a autoridades austríacas estar muito preocupado com o debate sobre a eutanásia. A apreensão foi demonstrada em seu primeiro dia de visita à Áustria. ¿O debate sobre o que se chama `ajuda ativa para morrer¿ constitui para mim uma viva preocupação¿, afirmou.

Ele disse temer que um dia haja pressões ¿não declaradas e inclusive explícitas¿ sobre os doentes e idosos para que solicitem a morte e ponham fim a suas vidas. Em contrapartida, o papa pronunciou-se a favor de um acompanhamento até a morte com a ajuda de medicina paliativa.

Nesse sentido, pediu aos políticos que promovam reformas estruturais nos sistemas sanitário e social, que deveriam ser acompanhadas, no seu entender, por outras medidas concretas de ajuda nas áreas psicológica e pastoral.

Em seu discurso, Bento XVI também reiterou sua condenação ao aborto por ser ¿contrário¿ aos direitos humanos e mostrou-se refratário à globalização desenfreada. ¿O direito humano fundamental é o direito à vida (...). Como conseqüência, o aborto não pode ser um direito humano, é o contrário.¿

O papa pediu ainda que a Europa não renegue suas raízes cristãs, no mesmo dia em que rendeu homenagem silenciosa às vítimas do Holocausto diante do memorial da Praça dos Judeus (Judenplatz).

Ontem, Bento XVI iniciou em Viena sua viagem oficial de três dias pela Áustria, motivada pela comemoração do aniversário de fundação do santuário de Mariazell, a 100 km da capital.

Após descer do avião, ele foi recebido com honras militares pelo presidente austríaco, Heinz Fischer, pelo chefe de governo, Alfred Gusenbauer, e pelo arcebispo de Viena, cardeal Christoph Schönborn, sob uma forte chuva que obrigou a transferência da cerimônia para um hangar do aeroporto. O presidente austríaco destacou em seu discurso de boas-vindas que o pontífice chegou a um país que conhece, ¿com o qual tem relações de parentesco e que fala o mesmo idioma¿.

O papa retribuiu e disse sentir-se em casa ao chegar ao país. No palácio imperial de Hofburg, onde se reuniu com Fischer, Bento XVI ouviu composições interpretadas por um quarteto antes de fazer seu discurso, marcado pelo caráter político e europeísta.

RAÍZES

Como já se previa, aproveitou que estava no coração da Europa e em um país que vem enfrentando perda de fiéis nas últimas décadas para investir contra a secularização do continente. ¿A Europa não pode e não deve renegar suas raízes cristãs¿, que constituem ¿um componente dinâmico de nossa civilização para avançar no terceiro milênio¿, afirmou.

Uma Europa, que em sua opinião, deveria esmerar-se em cultivar a capacidade de autocrítica, reconhecer seus erros e desempenhar um papel mais ativo no quadro internacional. O papa mencionou também ¿terríveis erros¿ que fizeram o continente sofrer no passado e seguir sofrendo hoje com a ¿degeneração da tolerância¿.