Título: Governo diz que política não é para agradar aos EUA
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2007, Economia, p. B8

Escritor norte-americano cobra atitude moral em relação ao Irã e ao Sudão

O governo chinês não deve mudar suas políticas em relação ao Irã e ao Sudão para agradar aos Estados Unidos. Foi o que ficou sabendo ontem à tarde o escritor e colunista do New York Times Thomas Friedman, autor do livro O mundo é plano. A resposta foi dada, quase aos berros, pelo subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Sha Zukang. Depois de acusar a China de ser ¿caronista¿ da era pós-guerra fria, Friedman havia cobrado uma atitude moral em relação aos dois países.

As principais sessões de ontem do Fórum Econômico Mundial foram dedicadas a decifração da nova grande estrela da economia globalizada, a China: como enfrentará os impasses criados pelo rápido crescimento, para onde estão indo os novos investimentos (muitos vão para o interior), como controlará a poluição, como atenderá às novas demandas da classe média, como será a passagem da era industrial para a de serviços e como poderá, se é que poderá, influenciar atitudes e valores noutras partes do mundo.

Foi no contexto dessa última discussão que surgiu o tema das relações com o Irã e o Sudão. A resposta de Zukang à pregação de Friedman foi apoiada enfaticamente pelo presidente do Banco de Exportação e Importação da China, Li Ruogu. Com isso, quase acabou em bate-boca a sessão programada para discutir o soft power - literalmente, poder suave, capacidade de influenciar, sem depender da força, um conceito desenvolvido pelo cientista político americano Joseph Nye.

Friedman havia dito que uma potência global não poderia ficar indiferente à transformação do Irã em potência nuclear. Quanto ao Sudão, ninguém poderia tolerar o genocídio. Um bom exemplo moral poderia ser dado com uma sanção econômica - no caso, a suspensão das compras de petróleo. Os Estados Unidos o fizeram, disse Friedman, e assumiram o custo de perder esse fornecimento.

Zukang rejeitou a expressão ¿caronista¿ (free rider). Disse que a China foi um dos fundadores da ONU e ajudou a desenvolver a suas regras. E acrescentou que os chineses descobriram e desenvolveram o petróleo no Sudão, que o Sudão precisa exportá-lo e a China, comprá-lo. ¿Há a impressão de que a China só está lá por causa do óleo e essa é a maior mentira que já ouvi¿, disse o diplomata.

Em apoio a Sha Zukang, Li Ruogu disse que quem tenta impor uma idéia aos outros está condenado ao fracasso. Como exemplo, mencionou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

Nessa e noutras sessões alguns pontos ficaram bem definidos: os chineses promovem o desenvolvimento à sua maneira, não querem proclamar a sua condição de potência, apresentam sua política africana como relação Sul-Sul e trabalham com vistas a objetivos nacionais de longo prazo -¿Como confiariam em nós, se mudássemos a política todo ano?¿ perguntou um debatedor. Cavaleiro solitário (lonerider) seria a descrição mais precisa.