Título: Brasil e China gastam muito esforço com pequenos problemas
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2007, Economia, p. B8

Para o embaixador brasileiro em Pequim, as relações bilaterais precisam de uma agenda positiva

Problemas pequenos vêm tendo peso excessivo na agenda econômica do Brasil com a China, segundo o embaixador brasileiro em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves. Glifosato e escovas de cabelo pouco representam num comércio bilateral de US$ 20 bilhões - valor estimado para este ano -, mas acabam dando o tom às discussões entre os dois países, lamenta o diplomata. As importações de têxteis e confecções também têm motivado reações da indústria.

O problema do glifosato e o das escovas de cabelos foram enfrentados com ações antidumping na Organização Mundial do Comércio (OMC). No caso dos têxteis e roupas, negociaram-se restrições voluntárias de exportações, mas o governo brasileiro ainda conseguiu, há pouco tempo, convencer os parceiros do Mercosul a aumentar a tarifa comum de importação.

É preciso cuidar desses e de outros problemas comerciais sem azedar as relações e sem perder a visão das grandes oportunidades, avalia o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Ernesto Heinzelmann, executivo principal também da Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), presente com uma fábrica em território chinês desde 1995.

Os chineses, diz o embaixador, têm uma visão global das relações com o Brasil. ¿Não há como dar caneladas num setor sem os empresários de outro ficarem sabendo¿, observa Heinzelmann. ¿Pessoas de alto nível do governo e de entidades empresariais estão discutindo o varejo, embora haja canais mais apropriados para isso.¿

De acordo com o empresário, falta cuidar de uma agenda positiva, porque não há nada mais importante no mercado internacional do que a emergência da China.

As queixas do setor têxtil e de confecções brasileiros são exageradas, segundo o embaixador e o presidente do conselho: fala-se de invasão do mercado brasileiro, mas a presença chinesa tem crescido em todos os mercados.

Além disso, argumentam, a China está apenas tomando, no mercado brasileiro, o lugar de fornecedores de outras nacionalidades. As empresas mais eficientes, acrescentam, têm conseguido vender para os próprios chineses.

VENDA DE CARNE

Heinzelmann aponta a exportação de carnes como um dos assuntos merecedores de maior atenção. Se a China consumisse apenas um quilo de porco por habitante por ano, esse mercado seria suficiente para absorver quase metade da produção brasileira, de cerca de 3 milhões de toneladas anuais, observa o diretor de Relações Internacionais da Sadia, José Augusto Lima de Sá, também membro do Conselho.

Mas não se importa carne de porco do Brasil porque falta a aprovação de frigoríficos pelo governo da China. Também as compras de frango brasileiro estão emperradas porque as autoridades chinesas não liberam as licenças, embora tenham aprovado os frigoríficos.

O embaixador e empresários ligados ao conselho aproveitam a reunião do Fórum Econômico Mundial em Dalian para contatos com executivos chineses. A ação brasileira foi reforçada, ontem, com a publicação de um suplemento de quatro páginas, comemorativo do 7 de Setembro, no jornal China Daily.

O caderno contém grandes anúncios coloridos da Embraer, da Sidenor Villares, do Banco Itaú BBA e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). O suplemento apresentou uma entrevista de meia página com o embaixador brasileiro e reportagens sobre investimentos, comércio e cooperação tecnológica entre brasileiros e chineses.