Título: Política monetária sofre aperto
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2007, Economia, p. B6

Brasil é caso raro por conseguir reduzir taxa de juro

O Brasil está quase isolado, entre as economias emergentes, como um país onde o Banco Central (BC) ainda consegue cortar a taxa básica de juros. Na maior parte do mundo em desenvolvimento, o movimento tem sido inverso: os BCs estão apertando a política monetária para tentar conter as pressões inflacionárias globais.

Na China, onde vem aumentando a preocupação com a inflação, o Banco Popular da China decidiu aumentar nesta semana, pela sétima vez no ano, os depósitos compulsórios, que passam para 12,5% no fim de setembro. O objetivo é enxugar a liquidez. O governo chinês utiliza muito menos que os demais países emergentes o instrumento clássico de política monetária, que são as taxas de juros.

Na Colômbia, desde o primeiro semestre de 2006, a taxa básica já subiu de 5,5 para 9,2%. No Chile, foi reduzida na primeira reunião do ano, em janeiro, de 5,25% para 5%. Com o forte repique da inflação, porém, o Banco Central do Chile já realizou aumentos de 0,25 ponto porcentual nas duas últimas reuniões, e a taxa agora está em 5,5%.

Até no Peru, onde a inflação em 12 meses está em torno de 2%, um nível de país desenvolvido, o Banco Central está elevando os juros. Desde julho, a taxa básica já subiu de 4,5% para 5%. Segundo os analistas, a preocupação do BC peruano não é tanto com a inflação corrente, mas sim com as expectativas inflacionárias, que poderiam subir em razão do ritmo eletrizante da economia do país.

Um fator adicional é o peso dos alimentos (que vem sofrendo inflação global) na cesta na qual é baseada o índice de preços ao consumidor do Peru. As comidas e bebidas não alcoólicas correspondem a 50% da cesta peruana, comparado com níveis próximos de 20% no Brasil e no México, e de 30% na Argentina.

O México, aliás, é considerado por alguns analistas como um dos países que de certa forma se antecipou às pressões inflacionárias globais. O movimento de queda das taxas básicas foi interrompido em abril de 2006, e, um ano depois, em abril de 2007, a taxa básica subiu de 7% para 7,25%. Na sua última reunião de política monetária, o Banco Central do México manteve a taxa inalterada.

O economista brasileiro Nuno Câmara, do Dresdner Kleinwort em Nova York, considera que a grande dúvida dos bancos centrais dos países emergentes, especialmente da América Latina, é saber se o atual repique inflacionário é transitório ou mais persistente. ¿É a mesma situação que a gente vê no Brasil¿, ele diz.

Gino Olivares, economista-chefe do Opportunity Asset Management, nota que muitos países estão verificando que a combinação de rápido crescimento e baixíssima inflação foi passageira. ¿Depois de cinco anos de expansão global muito forte, era de se esperar alguma pressão inflacionária¿, ele diz.