Título: Pobre é que sentia na pele
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2007, Economia, p. B6

Consumidores temem escalada da inflação

A alta no preço dos alimentos já assusta o consumidor e traz de volta a lembrança de um velho fantasma: o da hiperinflação. ¿Tenho horror de que volte aquele período. Eu que sou mais pobre, sentia na pele. O dinheiro não rendia¿, conta a empregada doméstica Alessandra Helena Ricardo, que comprava verduras em uma feira livre na Bela Vista, região central da capital paulista.

Atenta, ela tem notado os altos e baixos nos preços dos alimentos. ¿Tem verduras que estão custando quase o mesmo que um quilo de carne. Que por sinal está mais cara também¿, diz. Mas o susto maior veio com a alta no preço do leite e derivados. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de agosto, essa categoria teve aumento de 5,77% em relação a julho. Só o leite pasteurizado acumula alta de 53,95%.

¿Eu comprava o litro de leite a R$ 1,45 e agora está R$ 2,50. Como ficar sem leite?¿ pergunta. Mãe de dois filhos, de 12 e 14 anos, e com um rendimento mensal médio de R$ 800, Alessandra já começou a cortar alguns derivados, como iogurtes. ¿Espero que essa alta nos preços seja passageira.¿

A professora primária Elizabete Martins verificou ¿uma alta enorme nos alimentos¿. ¿Leite, derivados, óleos e produtos de limpeza dispararam¿, analisa a consumidora. Elizabete havia se desacostumado à inflação alta. ¿Acho que pode piorar, sim. Isso porque as coisas estão subindo de forma camuflada, aos pouquinhos¿, diz. Ela cita como exemplo o leite, cujo consumo ela e o marido já reduziram.

A dona-de-casa Maria Paganoti também reclama dos preços. ¿Este ano os alimentos subiram mais do que no ano passado¿, conclui. A oscilação também é sentida pela analista de negócios Kátia Wypych. ¿Não acho que essa inflação seja passageira. Hoje os alimentos estão mais caros do que há alguns anos. Creio que não tenha mais volta.¿