Título: Alta da inflação dá um susto nos países emergentes
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2007, Economia, p. B6

Bancos centrais empenham-se em controlar índices que dispararam por conta de reajustes dos alimentos

Os ventos da inflação global pegaram os países emergentes de surpresa. Depois de anos em que a alta dos preços convergiu para os padrões dos países mais avançados, agora os bancos centrais das nações em desenvolvimento com sistema de metas de inflação estão tendo trabalho redobrado para trazer os índices para o intervalo previsto.

¿Existe uma combinação do aumento global do preço dos alimentos com um crescimento muito forte em vários países¿, diz Gino Olivares, economista-chefe do Opportunity Asset Management. O exemplo mais importante, em termos globais, é o da China, onde a inflação subiu para 5,5% em julho, em relação a julho de 2006, assustando as autoridades econômicas.

Segundo um relatório recente do banco de investimentos Dresdner Kleinwort, os países emergentes são mais suscetíveis às pressões inflacionárias derivadas dos alimentos porque esses produtos têm grande peso na cesta que compõem seus índices de inflação ao consumidor.

Na média dos emergentes, o peso dos alimentos na cesta é de 30%, ante 15% nos Estados Unidos e cerca de 13% na Europa. O peso da energia - outro fator inflacionário, por causa do alto preço do petróleo - também é maior nos emergentes que nos desenvolvidos.

Um dos casos mais drásticos de surpresa inflacionária ocorreu no Chile, uma das estrelas do mundo emergente. Até abril, a inflação em 12 meses estava em 2,5%, para uma meta central de 3%. No segundo trimestre, porém, a taxa começou a acelerar, e o Chile teve, em julho e agosto, inflação mensal de 1,1%. Em termos anualizados, seria uma taxa de 14%.

É claro que um repique como esse não vai durar um ano, mas as expectativas de inflação no Chile deram um salto. O Dresdner Kleinwort, por exemplo, acaba de aumentar sua projeção da inflação chilena de 5,6% para 6,4%. Isso é mais que o dobro do centro da meta da inflação, que vem sendo cumprida há anos pelo Chile, com muita tranqüilidade. A projeção de inflação do Fundo Monetário Internacional (FMI) de abril, por exemplo, era de 3%, bem no meio da meta.

Na Colômbia, a inflação acumulada em 12 meses até outubro de 2006 estava em 4,2%, quando a meta era de 4,5%. Para 2007, a meta foi reduzida para 4%. O problema, porém, foi que a inflação deu um salto, chegando, em abril, a acumular 6,3% em 12 meses, antes de cair para 5,8% em julho.

A maior parte dos países latino-americanos com sistemas de metas está sentindo a pressão, embora em alguns a situação esteja sob controle. É o caso do Brasil, onde as projeções médias do IPCA para 2007 estão em 3,74%, abaixo dos 4,5% do centro da meta. As projeções têm subido e muitos analistas consideram que ela pode se aproximar de 4%, mas até agora ninguém vê risco para o cumprimento da meta.

No Peru, talvez o país americano com melhor desempenho na atualidade (com projeção de crescimento em 2007 em torno de 7% e inflação baixíssima), o acumulado em 12 meses dos preços ao consumidor chegou a tangenciar o zero no primeiro semestre. Agora, a inflação já chegou a 2,2%, mas está dentro da meta de 1,5% a 3,5%. Já o México está com a inflação de 12 meses em 4,03%, praticamente encostada no teto da banda, que vai de 2% a 4%.

Na Argentina e Venezuela, dois países da América Latina que romperam com a ortodoxia na política monetária, a inflação está rodando em níveis bem mais elevados, acima de 15% (no caso argentino, segundo economistas independentes, já que o índice do governo está abaixo de 9%).

As pressões inflacionárias que atingem os emergentes não estão confinadas à América Latina. Na África do Sul, o índice que serve de meta de inflação acumulou taxa de 12 meses de 6,5% em julho, acima da meta de 3% a 6%. Em Israel, a inflação dos últimos quatro meses, de 3,1% (em termos anualizados), está pouco acima do teto da banda, que vai de 1% a 3%. Na Europa Oriental, o cenário é mais variado, mas há focos inflacionários, como a Hungria, em que a última projeção foi de 7,6%.