Título: Partidos de oposição votam com o governo, revela pesquisa
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2007, Nacional, p. A5

No Senado, PSDB e do DEM seguiram aliados de Lula em 58,3% das votações este ano.

No primeiro semestre de 2007 o governo Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ditar o andamento das votações no Congresso de seu interesse com apoio não só da base, mas também de partidos da oposição como o DEM, o PSDB e até o PSOL. Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que tanto na Câmara como no Senado há um distanciamento entre o que dizem e o que fazem alguns dos principais partidos da oposição.

Nas 12 votações nominais do Senado, entre 2 de fevereiro e 16 de julho deste ano, parlamentares do DEM e do PSDB seguiram orientação de voto do líder do governo em 58,3% das vezes. Entre os senadores , apenas o do PSOL e o do PRB (cada um tem apenas um parlamentar na Casa) votaram contra o governo em mais de 50% das vezes.

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), afirmou que o fato de os parlamentares aprovarem mais da metade dos projetos não significa alinhamento. ¿A recomendação do voto pelo sim é feita em cima de acordos de mudança de texto em que o DEM negocia a inclusão de pontos de seu interesse nas propostas em discussão¿, explicou.

Segundo Agripino, o índice de solidariedade dos partidos deve ser medido em casos de temas conflitantes, como foi a Medida Provisória 232, que ampliava a carga tributária para empresas prestadoras de serviço, a qual enfrentou dura resistência na Casa. ¿Mas nos outros casos é produto de interesse. Não é que o partido está seguindo a orientação do governo ou está submisso.¿

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também afirmou que não há apoio ao governo. ¿Muitas dessas matérias são assuntos que nós apoiávamos e eles do PT eram contra e agora voltaram a discutir.¿ Segundo Virgílio, no Senado, se governo quiser aprovar suas propostas ¿goela abaixo¿, não vai conseguir. ¿As propostas são aprovadas porque o governo negocia conosco e são feitas modificações nos textos¿, disse o líder tucano, repetindo argumento de Agripino.

De acordo com ele, o caso envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é a prova de que a oposição tem força equilibrada com o governo dentro da Casa.

Na Câmara, só 4 dos 20 partidos representados (DEM, PSDB, PPS e PTC) foram contra a orientação da liderança do governo em mais de 50% das votações. Entre os deputados do DEM e do PSDB o comportamento é menos governista do que no Senado. Das 101 votações nominais realizadas no período, o PSDB acompanhou o governo em 34,6% dos casos e o DEM em 25,7%.

Já o PSOL, que se posiciona como a oposição mais radical, acabou votando conforme a orientação do líder do governo em 54,4% dos casos. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), afirmou que ¿o partido faz oposição programática e não sistemática¿ ao governo. Alegou ainda que o primeiro semestre não pode servir de parâmetro para análises.

¿Por enquanto, como não houve nenhum grande embate demarcatório, eles conseguiram levar em banho-maria, mas agora que começaram as votações importantes, como a da CPMF, é que vamos ver¿, disse Alencar.

Na avaliação do líder do PSOL, ¿a base é materialista¿ e o governo terá problemas para manter o apoio nas votações relevantes. ¿Só temos até agora votações de medidas provisórias¿, argumentou. ¿Não fazemos oposição burra. Apesar de repudiarmos esse sistema de governar por MPs, a maior parte delas trata de questões sociais que já chegam consumadas. Isso não significa apoio.¿