Título: Crise pode afetar os EUA, alerta Fed
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2007, Economia, p. B3

Advertência de Bernanke foi feita em reunião com presidentes dos principais bancos centrais do mundo, na Suíça

A turbulência nos mercados financeiros pode afetar a economia real dos Estados Unidos, repercutindo em todos os mercados. Em reunião com os principais bancos centrais do mundo na Basiléia, o presidente do Federal Reserve (o BC americano), Ben Bernanke, fez o alerta, provocando apelos por uma vigilância total das autoridades monetárias. O presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, confirmou que ninguém estaria imune a uma crise nos Estados Unidos, ainda que não considere ser esse o cenário mais provável.

Reunidos na Basiléia, os bancos centrais das principais economias debateram nos últimos dois dias que tipo de medidas tomar para evitar que a turbulência se transforme em crise na economia real. Prometeram ações conjuntas, garantiram que a economia mundial está saudável e disseram que está ocorrendo uma correção dos valores dos riscos. Mas, na mente de todos, a conclusão foi de que uma tosse na economia americana provocaria uma gripe ou até mesmo uma tuberculose em outros mercados.

O cenário mundial debatido nos últimos dias foi de desaceleração nos Estados Unidos, mas manutenção de um forte crescimento na Ásia e América Latina, segundo Meirelles. 'A economia mundial continua, pelo menos até o momento, saudável. Existe uma certa desaceleração nos Estados Unidos e o mercado prevê um crescimento de 2%, enquanto a taxa antes da crise era perto de 3%', diz o presidente do BC.

'Mas esse cenário convive com uma situação em que a Ásia emergente continuam crescendo a taxas vigorosas, lideradas pela China e Índia. Além disso, o Japão está tendo um crescimento moderado e a Europa, para seus padrões, continua também com um desempenho positivo. Outras regiões, como a América Latina, estão com um crescimento vigoroso', acrescentou.

O resultado do encontro, segundo Meirelles, foi de que os BCs precisam se manter vigilantes, em especial nos EUA. O objetivo seria monitorar os riscos de que os problemas de crédito do subprime não afetem outras estruturas financeiras.

'Se essas estruturas sofrerem, o impacto seria maior no processo de intermediação financeira dos Estados Unidos. O resultado levaria a um efeito mais sério na economia americana que, evidentemente, teria conseqüências para todo o mundo , afirmou Meirelles.

Mesmo prevendo que esse não seja o cenário mais provável, Meirelles garante que a possibilidade 'não pode ser desconsiderada e os BCs precisam monitorar isso com bastante atenção'. 'Ninguém sai imune. Temos de estar vigilantes.'

Ontem, falando em nome das autoridades monetárias, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, confirmou que segundo Bernanke o contágio da crise dos mercados financeiros na produção tem uma probabilidade de ocorrer. 'Estamos dependendo totalmente da avaliação do Fed nessa situação e o que os americanos disseram é que há uma probabilidade de repercussão na economia real dos Estados Unidos', afirmou Trichet.

O presidente do BC do México, Guillermo Ortiz, prevê uma queda na taxa de crescimento da América Latina em 2008 e duvida da capacidade dos países emergentes em evitar uma contaminação, caso os Estados Unidos sejam atingidos por uma recessão. 'Dependendo da profundidade da crise, vamos ter problemas pela frente', disse Ortiz. Ele admite que a relação econômica estreita entre a economia mexicana e a americana deixa seu país ainda mais vulnerável.

Questionado se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina seria afetado, ele foi contundente: 'Claro que sim. Por enquanto, o impacto da turbulência foi limitado. Mas, ao afetar a economia real e, principalmente, a americana, veremos quais serão os efeitos em todo o mundo'. 'Os BCs conhecem essa situação e sabem disso tudo. Esperamos que tomem ações suficientes para evitar esse cenário ruim.'

FRASES

'Estamos dependendo totalmente da avaliação do Fed nessa situação e o que os americanos disseram é que há uma probabilidade de repercussão na economia real dos Estados Unidos'

Jean-Claude Trichet Presidente do BCE

'Ninguém sai imune. Temos de estar vigilantes'

Henrique Meirelles Presidente do BC