Título: Boas e más notícias do PIB
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Notas & Informações, p. A3

A economia brasileira cresceu 4,8% no período de um ano encerrado em junho. Foi um desempenho bem próximo, portanto, daquele anunciado pelo governo como sua meta para este e para os próximos três anos. Essa é a primeira boa notícia embutida nas contas nacionais divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A segunda boa notícia é a expansão do investimento produtivo no mesmo período, 9,8%, medido pela formação bruta de capital fixo. A construção civil e a importação de máquinas, favorecida pelo dólar barato, são destaques nesse quadro. A terceira boa notícia é sobre a indústria de transformação: sua produção aumentou 4% nesse período. Nos quatro trimestres encerrados em março, a expansão do setor havia sido de apenas 1,5%. A recuperação do setor é especialmente importante, porque esse tipo de indústria ainda é o mais capaz de proporcionar grande número de empregos de qualidade, isto é, combinando produtividade e as melhores condições contratuais para os trabalhadores. O consumo das famílias cresceu 5,2%, mais, portanto, que a produção industrial. A expansão da economia, portanto, tem sido acompanhada por melhora das condições de vida dos brasileiros, graças à ampliação do emprego, do salário real e do crédito aos consumidores e, muito provavelmente, às políticas de transferência de renda para os pobres. A produção agropecuária, com alta de 6,6% nos quatro trimestres, tem contribuído para o consumo se expandir sem pressão inflacionária. Além disso, as importações crescentes têm reforçado a oferta de produtos no mercado interno, atendendo tanto os consumidores quanto os empresários interessados em investir em equipamentos.

Mas nem todas as notícias são positivas. Entre abril e junho, a produção foi apenas 0,8% maior que no trimestre imediatamente anterior. Nessa comparação, os números são decrescentes: 2,8% no terceiro trimestre de 2006, 1% no quarto e 0,9% no primeiro deste ano. A economia tem-se mantido em expansão, mas parece perder impulso gradualmente.

A variação do desempenho em trimestres consecutivos é o dado mais importante para a avaliação de tendências, desde que se desconte a influência de fatores sazonais, como as condições climáticas, as férias, as datas comemorativas, etc.

Quando se confrontam os números de cada trimestre com os de igual período do ano passado, o resultado pode ser mais vistoso, mas esse tipo de análise é às vezes enganador. É arriscado formular conclusões quando se comparam números de períodos descontínuos. A economia pode ter crescido ao longo de algum tempo e, depois, ter entrado em estagnação ou mesmo em queda.

Ainda assim, os números do último trimestre podem situar-se em patamar bem mais alto que os de um ano antes. Não tem sentido, portanto, afirmar que o PIB do segundo trimestre ¿cresceu¿ 5,4% em relação ao de igual período de 2006. Pode-se apenas dizer que foi 5,4% ¿maior¿. Essa diferença poderia ocorrer, hipoteticamente, mesmo com a economia em retração. Um homem que cai do 20º andar ainda está, ao passar pelo 15º, bem mais alto do que estava ao iniciar a subida pelo elevador. Mas nem os técnicos do IBGE fazem habitualmente essa distinção, que não é preciosismo.

Os números ficam um pouco mais feios quando se decompõe a taxa de crescimento do PIB. Nos quatro trimestres terminados em junho, o valor adicionado dos bens e serviços aumentou 4,4%, enquanto a arrecadação de impostos sobre produtos cresceu 6,9%. Em todas as comparações - com o trimestre anterior, com igual trimestre do ano passado, com os quatro trimestres anteriores ou com o primeiro semestre de 2006 - observa-se o descompasso entre o aumento da arrecadação de tributos e o da produção.

Segundo o governo, esse resultado decorre do crescimento da produção e das importações, não da majoração de alíquotas. Falta uma análise mais detalhada para se poder produzir uma explicação satisfatória. Mas um ponto é certo: o aumento da receita tributária não resultou em serviços melhores, nem no atendimento das necessidades de um número muito maior de pessoas. A economia teria certamente crescido mais, se os impostos pesassem menos sobre a produção e sobre o poder de consumo.