Título: Renúncia não faz parte da minha personalidade
Autor: Scinocca, Ana Paula e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2007, Nacional, p. A8

Renan reitera que é inocente e alega que abandonar cargo seria desrespeito ao Brasil e ao Senado.

Na véspera de seu julgamento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou demonstrar tranqüilidade e assegurou, em rápida conversa com jornalistas, que renunciar ao cargo ou licenciar-se dele não está em seus planos. Ao chegar ao Congresso, pouco antes do meio-dia, ele repetiu o comportamento dos últimos dias e descartou a hipótese de deixar o posto.

¿Qualquer coisa que diga respeito a licença ou renúncia não faz parte da minha personalidade¿, afirmou ele, ressaltando que vem há mais de cem dias lutando para provar a inocência ¿com sofrimento e com a exposição da família¿. Segundo ele, abrir mão do cargo seria ¿um desrespeito ao Brasil e ao Senado¿. ¿Por isso, não tem sentido, absolutamente nenhum sentido que agora se faça isso (renúncia ou licença).¿ Caso renuncie ou peça licença da presidência, o primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), terá cinco sessões para convocar nova eleição.

Depois de chegar ao Senado, Renan trancou-se em seu gabinete e só saiu de lá para presidir a sessão em homenagem ao Círio de Nazaré, no início da tarde. O evento serviu para mais uma ofensiva em busca de apoio contra a cassação no julgamento de hoje.

ACM

No DEM, Renan tem como certo o voto do senador ACM Júnior, filho de Antonio Carlos Magalhães, morto em julho. No leito de morte, ACM teria ordenado ao filho que votasse contra a cassação do peemedebista. O resultado é que o senador baiano não sabe se atende ao pai ou se vota pela condenação de Renan. ¿Do ponto de vista moral, ele votaria pela cassação, mas o desejo do pai pode ser decisivo¿, resumiu um amigo de ACM Júnior.

Meticuloso, ao tabular voto a voto para tentar construir maioria, o senador confessou-se animado na véspera da reunião que decidirá ou não por sua cassação.

Outro senador do DEM em sua lista de apoio é Heráclito Fortes (PI). Ele seria um voto camuflado pró-Renan, mas a oposição duvida. ¿Eu já demonstrei minha posição no Conselho de Ética¿, relembrou o próprio senador. Ali, com a ressalva de que atendia a uma orientação partidária, o senador piauiense votou realmente pela cassação de Renan.

A seu lado, emprestando experiência e força de ex-presidente, o senador José Sarney (PMDB-AP) tem trabalhado para uma saída vitoriosa para o peemedebista, desde que ela seja politicamente viável. ¿Ele tem sido um grande aliado e tem estado todos os dias com Renan¿, confirmou um amigo do senador. Nas contas de Sarney, o presidente do Senado será absolvido, mas o problema é saber se terá condições políticas para continuar no cargo sem aprofundar a crise.

LUA-DE-MEL

De Maiorca, na Espanha, o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), amigo de Sarney, interrompeu sua lua-de-mel para fazer uma sondagem fora do roteiro. Ele ligou para alguns senadores e perguntou se eles absolveriam Renan, caso ele se comprometesse a renunciar logo em seguida.

A enquete informal do ex-senador não teve seu resultado revelado, mas demonstra claramente que, apesar de todas as negativas, a saída pela renúncia ainda não foi totalmente descartada. ¿Eu falei com o Renan sobre a renúncia e ele continua resistente. Mas, no último segundo, quem sabe ele não renuncia¿, ponderou o senador Gilvan Borges (PMDB-AP).