Título: Planalto quer que senador retribua ajuda com licença
Autor: Samarco, Christiane e Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Nacional, p. A7

Objetivo é baixar a temperatura da crise e ao menos adiar processo de sucessão do comando da Casa

Brasília - Antes mesmo de a sessão do Senado começar, um dos líderes do governo confidenciou ao Estado que a estratégia do Planalto no julgamento contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), era dar ¿uma demonstração incontestável de que estava ao lado dele¿. Com isso, poderia cobrar dele que ¿fizesse a sua parte¿: pedisse licença, deixando o Senado sob o comando do primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), que presidiu o julgamento.

Na contabilidade do Planalto, esse seria o objetivo das sucessivas manifestações públicas de apoio dadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como da solidariedade dos petistas e aliados, expressa no painel eletrônico de votação do plenário do Senado.

A avaliação é de que, com a licença, seria possível baixar a temperatura da crise e ao menos adiar a abertura do processo sucessório para o comando do Senado, que certamente vai tumultuar ainda mais o ambiente político.

O regimento não prevê a licença apenas do cargo de presidente do Senado, só a do mandato parlamentar, por até 120 dias. Mas, em julho de 2001, em meio à guerra travada com o senador Antonio Carlos Magalhães, o agora deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) licenciou-se apenas do cargo de presidente do Senado, criando um precedente que pode se repetir agora.

Diante disso, setores do Planalto e do próprio PMDB começaram a trabalhar para que Renan se licencie. Neste caso, quem estará no comando da sessão que vai votar a emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) será o PT.

Um dirigente peemedebista disse ontem que não vê problema algum em deixar o PT sentado na cadeira de presidente que cabe ao PMDB.

Segundo outro dirigente do partido, deixar o comando do Senado para Viana é a alternativa que sobrou para substituir Renan. Ele disse que José Sarney (PMDB-AP), que seria a opção ideal para o governo, não tem interesse em assumir a presidência do Senado agora porque o regimento não permite a reeleição em meio ao mandato.

Um interlocutor do Planalto explicou que a articulação pela licença não é para já. Renan, segundo esse interlocutor, pode aproveitar o fim de semana para capitalizar a vitória em Alagoas, licenciando-se na semana que vem.