Título: CNBB condena voto secreto e aponta risco de apatia popular
Autor: Mayrink, José Maria e Darcie, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Nacional, p. A9

Para OAB, resultado da sessão afeta a sociedade e deve servir de exemplo

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Dimas Lara Barbosa, considerou que a absolvição de Renan Calheiros causará um desgaste para o Senado ¿numa hora em que a classe política já não goza de boa reputação¿ e poderá ter como conseqüência uma sensação de apatia perigosa para a democracia.

¿Será lamentável, se isso vier a ocorrer, porque existem bons parlamentares que colocam o mandato a serviço das boas causas¿, disse d. Dimas, em nome da presidência colegiada do episcopado. ¿Tenho a esperança de que os eleitores se manifestem de maneira criativa, nas próximas eleições, eliminando da vida pública os candidatos que não merecem voto.¿

O secretário-geral da CNBB acreditava que Renan seria cassado. Para ele, essa era também a expectativa da maioria dos brasileiros. ¿Observei, durante esse longo processo de cassação, que o povo está amadurecendo na participação política e, por isso, deve ter ficado decepcionado com a absolvição de Renan. A votação mostrou um Senado dividido, mas a gente não sabe qual foi a posição de cada senador, pelo fato de a sessão ter sido secreta.¿

D. Dimas admite que, em algumas circunstâncias, quando há pressões e interferências indevidas, se pode recorrer a sessões secretas para garantir a imparcialidade, mas não sabe se seria esse o caso. ¿Acho que o representante do povo deve dar conta do que faz¿, afirmou.

Segundo ele, a presença de deputados na sessão pode ainda dar aos eleitores a chance de saber o que ocorreu. ¿A CNBB continuará a insistir na questão ética e a divulgar documentos voltados para a consciência do cidadão, sem fazer opção partidária, para que os eleitores sejam capazes de acompanhar a ação dos políticos em todos os níveis da vida parlamentar.¿

ARRANHÃO

O resultado do plenário também provocou reações de várias entidades. Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lamentou a absolvição. ¿O resultado desta votação afeta a sociedade e deve servir de exemplo para que as votações futuras sejam abertas, propiciando maior controle por parte do eleitor sobre seu representante.¿

Segundo Rodrigo Collaço, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), o Senado perdeu uma oportunidade de instalar um novo nível de ética na política brasileira. Ele também lamentou a sessão e a votação secretas, mas observou que, nos próximos dois processos a serem respondidos por Renan, a opinião pública e as condições de trabalho no Senado terão grande influência. ¿Se 35 senadores votaram contra ele, fica claro que a Casa está dividida.¿ A imagem do Senado e da classe política, no entanto, são os mais prejudicados, segundo Collaço. Ele diz que o ¿arranhão¿ provocado pela decisão tira qualquer autoridade da figura do presidente da Casa.

Cláudio Weber Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, também destaca o desgaste da imagem do parlamento frente à população, mas não acredita que isso seja problema para os ocupantes da casa. ¿Eles não ligam, fazem tudo do jeito que lhes convém.¿ Para Abramo, desde o início do processo, a manutenção da sessão secreta e a permanência de Renan no cargo de presidente já sinalizavam para a absolvição. ¿Eles (os senadores) se esconderam atrás do regimento interno porque têm vergonha do que fizeram.¿

Abramo também não acredita que a pressão popular possa reverter o resultado nos próximos dois processos, pois a mobilização da sociedade foi muito pequena. ¿Os senadores vivem em um mundo que não é nosso, muito distantes do eleitor, e a sessão secreta deixou isso claro.¿

ABSTENÇÕES

A coordenadora-geral do Movimento Voto Consciente, Sônia Barboza, considerou as seis abstenções a pior faceta da votação de ontem. ¿Não era para botar a cara para bater, era só para dar opinião. Esses seis são os que menos merecem estar lá e não sabemos quem são.¿ Como ponto positivo, ela também considera que se pode resgatar a discussão sobre as votações secretas no Senado. ¿A sociedade civil está vendo esse absurdo.¿