Título: Lula ataca tarifa da UE para etanol
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Economia, p. B7

Em discurso na Suécia, presidente vê protecionismo em tarifa de 5% para o petróleo e 55% para o álcool

No segundo e último dia de sua viagem à Suécia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou ontem o tom das críticas às barreiras tarifárias impostas pela União Européia ao etanol, adicionando a seu estoque de queixas a comparação com o petróleo. Diante de uma platéia formada por 200 empresários suecos e brasileiros, Lula definiu as tarifas como 'injustificáveis' no comércio internacional e alertou para um possível congelamento do que batizou como 'revolução energética'.

'Será impossível expandir significativamente o mercado para biocombustíveis na União Européia enquanto persistirem políticas protecionistas', afirmou o presidente, na abertura do seminário 'Brasil Day', quando também apresentou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Acompanhado pelo rei da Suécia, Carlos XVI Gustavo, Lula disse que a União Européia impõe ao etanol brasileiro tarifas que podem alcançar até 55%, enquanto, no caso do petróleo, a cobrança não passa de 5%. Com um discurso enfático, o presidente afirmou que a 'imposição européia' prejudica tanto produtores eficientes como consumidores.

'Às vezes eu fico preocupado quando falo, porque as pessoas podem pensar: 'Bom, o presidente Lula está falando isso porque não tem petróleo'. Quero dizer que temos petróleo, somos auto-suficientes e temos uma das empresas mais modernas do mundo, que não perde para nenhuma outra em prospecção de águas profundas', garantiu. E fechou o raciocínio com um comentário que arrancou gargalhadas da platéia: 'Aliás, se tiver águas profundas aqui na Suécia, podem nos convidar porque seremos parceiros'.

Na terça-feira, Lula assinou acordo com o governo sueco para o desenvolvimento dos biocombustíveis, que prevê até cooperação com países pobres. Além disso, nas 28 horas em que permaneceu em Estocolmo, o presidente não cansou de elogiar o interesse do país nórdico de promover energia limpa.

'Por que essa loucura pelos biocombustíveis?', perguntou Lula aos empresários, na tentativa de esclarecer o interesse despertado em torno do assunto. Em sua resposta, disse que apenas com o combustível alternativo é possível fazer a 'revolução energética' e firmar parcerias com os países mais pobres. Lembrou, ainda, que uma plataforma de petróleo, com produção de 200 mil barris por dia, custa cerca de US$ 2 bilhões e gera 7 mil empregos.

Com uma pasta recheada de informações sobre o Brasil - que foi distribuída aos investidores -, Lula apresentou o País como uma nação de economia 'sólida, madura e consistente' ao tentar 'vender' o PAC e os biocombustíveis. Disse que o Brasil passou quase três décadas em situação difícil, chegando a ter inflação de 80% ao mês. Ressalvou, porém, que em seu governo o País se 'descobriu' como nação por ter um 'projeto de soberania'.

LUZ DAS ESTRELAS

'Se vocês acreditaram no Brasil em momentos de adversidade, não há por que não continuar acreditando nesse momento extraordinário', apelou Lula aos empresários. 'O Brasil, durante muito tempo, falava o que não fazia e fazia o que não falava. Hoje, nós queremos falar a mesma linguagem com a luz do dia ou com a luz das estrelas.'

A exemplo do dia anterior, o presidente bateu na tecla da necessidade de controlar a inflação. 'Não vamos permitir que a inflação volte a ser a razão pela qual alguns poucos ganham muito dinheiro e outros muitos perdem dinheiro', insistiu.

Após o seminário, Lula se dirigiu ao Instituto Real de Tecnologia a bordo de um ônibus vermelho da Scania movido a etanol (leia mais abaixo). Lá, renovou as críticas às tarifas impostas pela União Européia ao etanol e viu a vice-primeira-ministra Maud Olofsson cometer um ato falho.

'Até agora, estamos muito à frente do que vocês estão fazendo no Brasil', disse Olofsson, trocando as palavras e provocando risos da platéia. Na prática, queria dizer 'muito atrás', já que, em seu discurso, afirmava estar 'impressionada' com os avanços brasileiros na área de biocombustíveis. A Suécia é hoje o quinto maior importador de etanol do Brasil.