Título: Bernanke e o Fed, de olho em 2008
Autor: Redburn, Tom
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Economia, p. B13

Até os mercados financeiros se descontrolarem, no mês passado, imaginava-se que a programada reunião dos articuladores políticos do Federal Reserve (o Banco Central americano) seria como as outras. Afinal de contas, há mais de um ano o Fed não mudava sua taxa de juros e não havia nenhuma razão para pensar que a próxima sessão seria diferente.

Mas, com certeza, agora será diferente. O último golpe ocorreu na sexta-feira, com a avaliação do Departamento do Trabalho, segundo a qual o número de empregos caiu no mês passado, encerrando um ciclo de quatro anos ininterruptos de ganhos. Porém, mesmo antes desse informe desalentador, muitas pessoas em Wall Street já vinham reclamando do Fed um corte significativo nas taxas, o que poderia atenuar a crise de crédito.

E desde 7 de agosto, quando Ben Bernanke, presidente do Fed, projetou um corte na taxa de descontos (paga pelos bancos nos empréstimos diretos do Fed), ele indicou também que estava inclinado a reduzir os custos dos empréstimos pelo menos uma vez, esperando evitar que o mal que atingira o setor imobiliário não contaminasse o resto da economia.

Mas será suficiente? É provável que a resposta à pergunta afete o clima político de maneiras imprevisíveis.

Um aumento das execuções hipotecárias e a queda dos preços dos imóveis residenciais reforçarão o argumento democrata de que as políticas dos republicanos ajudaram os ricos, mas deixaram a classe média menos segura e os pobres em situação ainda pior.

Mas uma economia menos aquecida não se transformará necessariamente em ganho para os democratas. Em primeiro lugar, com a ameaça de recessão, fica mais difícil argumentar em favor do fim dos cortes de impostos decididos pelo presidente Bush, uma vez que taxas menores estão planejadas para que isso aconteça em 2010. Mas torna mais fácil para os republicanos argumentar que as propostas democratas de elevação de impostos para os ricos podem piorar a economia.

De fato, com as perspectivas econômicas mais incertas do que o habitual, as medidas adotadas pelo Fed - que luta para se manter acima das políticas partidárias, o que nem sempre consegue - preparam o cenário não só para o debate eleitoral dos próximos meses, mas abrem espaço também para algumas das opções políticas cruciais que se apresentarão ao próximo presidente e ao Congresso em 2009. E o plano de ação do banco central não está absolutamente claro.

Com esses dados recentes sobre o nível de emprego, não há mais dúvidas de que, em 18 de setembro, o Fed fará um corte das taxas - talvez de um quarto de ponto percentual ou até meio ponto. Mas uma decisão sobre cortes de taxa vai depender de uma interpretação sensata desse fluxo contraditório e muitas vezes confuso de informes estatísticos e anedóticos que Bernanke recebe todos os dias. O que não será fácil diante da pressão de Wall Street e a probabilidade de os políticos agora estarem observando mais atentamente o Fed.

Afinal de contas, não faz muito tempo que George Bush, pai do presidente Bush, responsabilizou o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, pela sua derrota eleitoral em 1992.