Título: China questiona punição do Brasil à Mattel
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2007, Negócios, p. B17

Empresa, proibida pelo governo de importar brinquedos, traz da China a maior parte dos produtos

O governo da China informou ao Estado que vai pedir reuniões bilaterais com o Brasil para discutir a suspensão das importações de brinquedos imposta à fabricante Mattel - os produtos da empresa vêm, em sua maioria, da China. A informação é do embaixador da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), Sun Zhenyu. 'As reuniões serão bilaterais, em Brasília ou em Pequim', afirmou o diplomata, considerado um dos principais negociadores comerciais da China.

O governo brasileiro divulgou na terça-feira ter suspendido, desde 17 de agosto, todas as licenças de importação da Mattel, depois que a própria empresa anunciou recalls para a troca de brinquedos com problemas. Os produtos em questão contêm pequenos ímãs que podem se soltar e ser engolidos pelas crianças ou usam tintas com alto teor de chumbo, produto altamente tóxico.

Sun afirmou que quer realizar encontros com o governo brasileiro para explicar que 99% das exportações feitas pelo país não representam ameaças. 'Obviamente, alguns problemas existem. Mas estamos investigando e medidas estão sendo tomadas. O que não entendemos é como o tema pode ser inflado e sair de proporções. Posso dizer que 99% de nossas exportações são seguras.'

Sun destaca ainda que parte dos problemas com os brinquedos não vem dos materiais usados, mas sim do design dos produtos, que representariam um risco às crianças. 'O design não é feito na China, mas sim pelos próprios americanos, que agora dizem que não estão nos padrões estipulados por eles.'

Nos últimos anos, os comentários entre os especialistas em comércio exterior são de que Papai Noel teria se mudado da tradicional Lapônia para a China. O país é hoje responsável por quase metade da produção mundial de brinquedos, além de árvores de Natal que são exportadas para os principais mercados cristãos, como Europa e Estados Unidos.

Mas a suspensão brasileira pode não ser a única. Ontem, a comissária de Proteção ao Consumidor da União Européia, Meglena Kuneva, disse que as importações de produtos chineses podem ser proibidas se o país não conseguir satisfazer os padrões do bloco europeu em relação à segurança e à saúde.

'Se até outubro a China não responder satisfatoriamente às nossas questões, teremos de dar o próximo passo, que é proibir a entrada de certos produtos, como brinquedos', disse. Meglena Kuneva pediu às autoridades chinesas um relatório com respostas aos temores da União Européia sobre a entrada no bloco de produtos inseguros vindos da China, como brinquedos, cremes dentais e alguns alimentos.

EUA

Nos Estados Unidos, o presidente-executivo da Mattel, Robert Eckert, disse ontem que a companhia melhorou seus métodos para evitar que brinquedos sejam fabricados com tintas com excesso de chumbo, e culpou, durante audiência no Senado americano, fabricantes estrangeiros pelos problemas que levaram a empresa a anunciar recalls de mais de 20 milhões de brinquedos. 'Nós ficamos desapontados, e desapontamos vocês', disse Eckert aos senadores. 'Agora estamos fazendo tudo para evitar que isso aconteça novamente.'