Título: Até em Oslo houve protesto contra Senado
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2007, Nacional, p. A11

A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atravessou o oceano. No início da noite de ontem, durante cerimônia de boas-vindas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio Real da Noruega, em Oslo - a 10.754 quilômetros de Brasília -, dois brasileiros ergueram uma folha de papel com os dizeres ¿o Senado é uma piada¿ e ¿a base da política é corrupta!¿. O discreto protesto acabou diluído diante da animação dos brasileiros que acenavam para Lula cantando ¿olé olé, olé, olé, olá, Lula, Lula¿, jingle de todas as campanhas.

Lula chegou ao palácio a bordo de uma limusine preta e foi recebido com salva de tiros e honras de chefe de Estado pelo rei Harald V e pela rainha Sonja. Depois de passar as tropas em revista, não resistiu aos gritos de ¿Lula, eu te amo¿ e quebrou o protocolo: aproximou-se do grupo de 180 brasileiros, deu beijos, autógrafos, levantou crianças e posou para fotos.

Na platéia, os paulistas Josilene da Silva e Édson José de Paula Santos seguravam a folha com a crítica à absolvição de Renan. De um lado estava a inscrição ¿a base política é corrupta!¿, assinada por ¿os da Silva¿. Do outro, a frase ¿o Senado é uma piada¿, escrita em cor-de-rosa.

A confusão foi tanta que o protesto passou despercebido por Lula. ¿Não podemos aceitar que esse caso se transforme em pizza¿, disse Édson, jornalista que mora há 22 anos em Oslo. ¿O governo ajudou a salvar o Renan¿, completou a dona de casa Josilene, há quatro anos na capital da Noruega. Josilene arriscou um contato com o presidente quando ele se aproximou do grupo. ¿Cuida do nosso país!¿, pediu, já sem exibir o papel pardo, a essa altura bastante amassado pelo empurra-empurra. Foi a primeira-dama Marisa Letícia que respondeu: ¿Quando vocês voltarem, o Brasil vai estar melhor¿. A dona de casa não perdeu a deixa: ¿Eu não vou voltar¿.

Vestido à la Chacrinha e com uma corneta, o norueguês Klas Solberg tocava Cidade Maravilhosa enquanto Lula cumprimentava seus fãs. Do outro lado do Palácio Real, brasileiros usavam camisetas do Movimento dos Sem-Terra (MST) e bonés vermelhos. Duas bandeiras do MST foram penduradas no cordão de isolamento.

Antes que o presidente se despedisse, o enfermeiro paulista Roger Sousa fez um desabafo. ¿O Congresso tem que aprovar a união dos homossexuais!¿, insistiu. Lula o tranqüilizou: ¿Vai aprovar, vai aprovar¿. Sorridente, ainda parou para ouvir uma canção ensaiada por crianças norueguesas, antes de seguir para o jantar de gala.