Título: Santander mais perto de levar o ABN Amro
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2007, Economia, p. B5

Presidente do banco espanhol disse a Lula que só 'tsunami' evita o negócio.

O conselho diretor do banco holandês ABN Amro, que no Brasil controla o Banco Real, declarou, ontem, continuar neutro frente às propostas de compra feitas pelo britânico Barclays e o consórcio de que participa o espanhol Santander. Na manhã de sábado, em Madri, o presidente do Santander, Emilio Botín, havia informado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estar praticamente fechada a compra do ABN. Botín disse que, apesar de haver ainda uma proposta do banco inglês Barclays, apenas 'um tsunami' impediria a concretização do negócio pelo Santander, que até já nomeou pessoal para fazer a transição, inclusive no Brasil.

O favoritismo do consórcio, do qual participam o britânico Royal Bank of Scotland (RBS) e o belga Fortis, além do Santander, foi confirmado pelo presidente-executivo do ABN Amro, Rijkman Groenink, em entrevista concedida ontem à emissora de televisão holandesa NOS. Segundo ele, o espanhol Santander 'tem grandes possibilidades' de comprar a entidade, porque sua oferta é superior à do Barclays, embora a diretoria se mantenha neutra perante os acionistas. A oferta do ABN supera atualmente a do Barclays em quase 12 bilhões.

Groenink disse ser 'muito provável' que o consórcio alcance a meta de comprar o ABN. E acrescentou que as possibilidades do britânico na disputa aumentariam caso subisse o valor de suas ações, que neste momento sofrem tendência de baixa. Mas ele previu que essa mudança de tendência na cotação das ações de Barclays 'provavelmente não ocorrerá'.

A direção do ABN anunciou que não expressará nenhuma preferência por uma das duas ofertas, como se esperava que ocorresse durante a assembléia de acionistas do próximo dia 20. Analistas apostam, no entanto, que os diretores irão declarar apoio ao Santander após a reunião de quinta-feira. O negócio deverá ser anunciado oficialmente no dia 5 de outubro, data final para a aquisição.

Qualquer que seja a decisão do ABN, será a maior transação da história da indústria financeira. A primeira oferta feita pelo consórcio ao banco holandês foi de US$ 98,4 bilhões, US$ 7,4 bilhões mais que o Barclays.

Se confirmada, a compra do ABN Amro pelo Santander transformará o grupo na segundo maior instituição bancária do Brasil, passando o Itaú e ficando atrás apenas do Bradesco. Segundo Botín informou ao presidente Lula, o investimento planejado pelo grupo no Brasil é de US$ 26 bilhões.

Lula, que fez amizade com Botín ainda no início de 2002, quando era candidato a presidente da República, recebeu bem a notícia. Concordou com a avaliação do banqueiro de que fará bem ao Brasil ter mais um grande banco atuando, o que vai aumentar a concorrência. O presidente foi uma das primeiras pessoas fora do banco a saber dos interesses do Santander, e vinha acompanhando as movimentações desde março.

O encontro entre Botín e Lula serviu, também, para o presidente do Santander contar ao presidente que a confiança na economia brasileira tem aumentado na Europa. Ele relatou ao presidente um encontro com 150 investidores europeus na cidade de Santander, cerca de 400 quilômetros de Madri, de onde se origina a família dos donos do banco. De acordo com Botín, todos os anos há grandes questionamentos sobre os investimentos no Brasil. Este ano, no entanto, relatou, houve praticamente uma unanimidade. Botín também se mostrou impressionado com o interesse despertado pelo Brasil nas empresas espanholas.

Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com 51 empresários - nem todos com investimentos no Brasil - no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol. Antes, faz a abertura de um outro seminário para empresários com o nome de Perspectivas da Economia Brasileira: Infra-Estrutura e Biocombustíveis.

Esse é o tema central da visita do presidente à Espanha: atrair ainda mais investimentos do país que é o segundo maior investidor no Brasil. Para isso, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que não participou da etapa inicial da viagem aos países nórdicos, chegou no sábado a Madri. Vai participar da apresentação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aos espanhóis.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS