Título: Depois de 37 anos, Eugênio Staub deixa a presidência da Gradiente
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2007, Negócios, p. B14

Nelson Bastos, da consultoria Integra, assume o comando com a missão de cortar custos e tirar a empresa da crise

Depois de 37 anos no comando da Gradiente, o empresário Eugênio Staub, de 65 anos, deixa a presidência-executiva da empresa em meio a mais uma crise. A partir do dia 1º, Nelson Bastos, de 64 anos, assume a presidência-executiva com a missão de tornar a Gradiente lucrativa até meados de 2008, cortando custos e lançando produtos que seriam mais rentáveis, como uma TV digital de bolso. Staub vai para a presidência do conselho de administração.

'Não vou ficar em casa, mas olhar a empresa mais no longo prazo', avisa Staub. A companhia também acaba de contratar, por seis meses, a Integra Associados, consultoria especializada em reestruturações, da qual Bastos é sócio. A consultoria foi responsável pela reestruturação da Parmalat. Bastos, por sua vez, fundou a Gradiente, posteriormente comprada pela família Staub. Ele ainda mantém uma participação minoritária na empresa.

Staub admite que as mudanças no comando fazem parte de um plano de reposicionar a companhia, trazendo 'sangue novo'. Argumenta também que a escolha foi feliz porque Bastos conhece os meandros da Gradiente. Staub diz, porém, que sua saída da presidência-executiva também está ligada aos planos de obrigar os executivos da Gradiente a se aposentarem aos 65 anos. Além disso, Staub diz que a companhia se prepara para entrar no Novo Mercado da Bolsa de Valores. No Novo Mercado há uma recomendação para que nenhum profissional acumule os cargos de presidente do conselho e de presidente-executivo.

SOBREVIVENTE

Com dívidas acumuladas de R$ 300 milhões, entre fornecedores e bancos, a Gradiente inicia mais uma reestruturação. 'Com 43 anos de mercado, a economia mudou várias vezes. A Gradiente fez diversas reestruturações para se adaptar, e é por isso que ela é uma sobrevivente', diz Staub.

Ele diz que o mercado de aparelhos de áudio e vídeo está em crise, mas admite que a companhia cometeu erros para chegar a essa situação. Entre os 'pecados' da Gradiente apontados por Staub estão os gastos excessivos com assistência técnica, que chegaram a 8% da receita, o aumento do custo de frete para tirar produtos de Manaus e a estrutura 'cara' da empresa para o ramo em que atua.

Staub diz que a companhia cresceu por meio de aquisições e, que por isso, acumulou vários ativos. 'Tínhamos três fábricas em Manaus.'

O enxugamento de custos já começou. A empresa vendeu a marca Philco por R$ 22 milhões para um grupo de investidores brasileiros, diz Staub. 'Fizemos um bom negócio porque vendemos a marca pelo mesmo valor que pagamos por todos os ativos da Philco.'

A companhia também vendeu para a Moto Honda uma das fábricas de Manaus que havia sido comprada da Telefunken. O negócio, prestes a ser concluído, é de R$ 27 milhões. A empresa também negocia a venda das unidades onde funcionava inicialmente a Gradiente. Staub conta que hoje as instalações estão alugadas e que há dois grupos de investidores interessados num negócio que deverá render à companhia entre R$ 18 milhões e R$ 20 milhões.

A redução de custos não termina aí. Os quatro andares de um prédio luxuoso vizinho da butique Daslu no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, ocupado pela administração da empresa, serão reduzidos a dois. A companhia já demitiu 150 funcionários desde junho. Hoje, emprega 770 pessoas.

Segundo Bastos, a mão-de-obra direta será ajustada às necessidades da produção. Ele diz que também pretende terceirizar algumas atividades. Isso sinaliza a possibilidade de mais cortes. 'Custo é como unha, a gente tem de cortar toda semana', diz Bastos.

VIRADA

Ao mesmo tempo em que corta custos, o novo presidente quer aumentar as receitas da companhia e alcançar resultados operacionais positivos em meados de 2008. O último balanço da empresa apresentado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de dezembro de 2006, apontou prejuízo de R$ 114,48 milhões e receita líquida de R$ 1,381 bilhão.

A empresa vai deixar de produzir TVs com tubo de imagem convencional e se concentrar em modelos com telas mais finas de 21 e 29 polegadas, de maior rentabilidade. Até o fim do ano, lança a TV digital de bolso, com tela de 3,5 polegadas, que será importada da Ásia. 'Estamos batalhando o software para esse produto', diz Staub, orgulhoso da característica inovadora do produto. 'Isso está no DNA da Gradiente', ressalta.

Nessa linha, a empresa pretende voltar ao mercado de celulares - do qual saiu recentemente - com produtos mais sofisticados e caros. Também prepara lançamentos de novos modelos de TV de LCD e plasma.