Título: Para analista, Ocidente está perdendo guerra virtual
Autor: Barba, Mariana Della
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2007, Internacional, p. A16
Até há algumas décadas, cortava-se o sistema de fornecimento de água das cidades protegidas como estratégia para atacá-las. Por mais bravos que fossem os soldados ou mais resistente que fosse a população, ninguém sobrevivia sem água. Hoje, essa água corresponde às informações digitais. Nenhum país, Exército ou empresa vive hoje sem computadores ou internet.
A comparação é feita por Ralph Peters, militar americano da reserva, autor de livros sobre terrorismo, como Wars of Blood and Faith: The Conflicts That Will Shape the 21st Century (guerras de sangue e fé: os conflitos que moldarão o século 21). Em entrevista ao Estado, por telefone, ele explicou que é inútil proteger as fronteiras físicas e esquecer das virtuais. Para Peters, estamos perdendo a guerra virtual. ¿Os governos ocidentais subestimam o perigo a longo prazo, quando ficaremos ainda mais dependentes do mundo online e, por isso, sob uma ameaça maior.¿
O primeiro problema é a Justiça. ¿A legislação está muito atrasada em relação às necessidades e perigos da era da informação¿, alerta Peters. Para se ter uma idéia, no julgamento de Younes Tsuoli, o principal ciberjihadista da Al-Qaeda, o juiz não sabia o que eram sites. ¿Em países democráticos como o Brasil e os EUA, essas leis são tartarugas numa época de lebres. Paradoxalmente, regimes autoritários como a China estão mais sintonizados com os riscos de ciberataques.¿
Outro empecilho no combate ao ciberterrorismo é a falta de cooperação internacional. ¿Há um esforço nesse sentido, mas ainda é limitado. Claro que todo mundo quer proteger suas fronteiras, no sentido físico. Mas, quando falamos de internet, precisamos pensar em defender uma civilização como um todo e não apenas em nações separadamente¿, diz Peters. Se isso não ocorrer, ¿os cibercriminosos vão continuar a ter uma devastadora vantagem sobre as sociedades e os Estados¿.
Para Robert Ayers, especialista em segurança internacional do instituto britânico Chatham House, a colaboração entre países é crucial.
¿Se um hacker em Londres quiser atacar o Brasil, ele usará sites dos EUA, do Japão e só depois entrará no seu computador em São Paulo¿, disse. ¿O problema é que muitos países não querem colaborar¿.