Título: Acordo do ozônio completa 20 anos e tem novo desafio
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2007, Vida&, p. A26

Com fim do gás CFC programado, problema é acelerar proibição de seu substituto, que provoca efeito estufa

No dia 16 de setembro de 1987, 24 países se reuniram no Canadá e se comprometeram a reduzir gradativamente a produção e o uso dos produtos químicos que destroem a camada de ozônio. Hoje, com 191 países, o Protocolo de Montreal completa 20 anos com o mérito de ser, até o momento, o mais bem-sucedido tratado mundial de proteção do ambiente.

Esse êxito se sente no dia-a-dia. Já não se vendem geladeiras e aparelhos de ar-condicionado que usam o famigerado clorofluorcarboneto (CFC), gás que destrói a camada de ozônio. Nos supermercados, todo desodorante ostenta um selo que diz que aquele aerossol não contém o CFC. No noticiário, há muito o aquecimento do planeta ocupou o lugar do ozônio na pauta ambiental.

A camada de ozônio é uma espécie de membrana a 25 km de altitude que protege a vida na Terra contra os raios ultravioleta (UV) do Sol. Além de serem os maiores vilões do câncer de pele, os raios UV podem causar catarata e debilitar o sistema imunológico.

Nos anos 70, um grupo de pesquisadores descobriu que o CFC tinha a perigosa capacidade de subir à estratosfera e destruir o ozônio, deixando o caminho livre para os raios nocivos do Sol. A incredulidade inicial da comunidade científica aos poucos deu lugar à preocupante constatação de que alguma atitude de escala mundial precisaria ser tomada.

Pelo Protocolo de Montreal, em 2010 o mundo abandonará oficialmente o CFC. O Brasil está adiantado. Deixou de produzir geladeiras que dependem desse produto em 1999 e proibiu a importação do gás no início deste ano. O CFC das geladeiras antigas precisa ser recolhido e reciclado. Dólares de um fundo internacional ajudaram os países pobres a trocar a tecnologia.

¿Tudo começou numa época em que as soluções multilaterais ainda não estavam na moda. Uns antes, outros depois, todos os países acabaram fazendo a sua parte¿, disse ao Estado a coordenadora das Redes do Ozônio do Programa da ONU para o Meio Ambiente, Mirian Vega.

AQUECIMENTO GLOBAL

Aos poucos, a indústria foi adotando o hidroclorofluorcarboneto (HCFC) como alternativa na refrigeração. Agride muito menos a camada de ozônio que seu antecessor. O HCFC, porém, tem o inconveniente de ser um poderoso gás do efeito estufa - contribui com o aquecimento do planeta.

Será justamente esse o desafio a ser discutido ao longo desta semana no Canadá, onde os 191 países voltarão a se reunir para discutir formas de reduzir o HCFC e substituí-lo por alternativas limpas.

O acordo estabelece que o consumo mundial do HCFC será congelado em 2015 e eliminado em 2040. No encontro desta semana, o Brasil e a Argentina apresentarão juntos a proposta de antecipar o congelamento para 2012 e o fim em 2030, com usos eventuais permitidos até 2040.

Apesar das mudanças aqui embaixo, o problema lá em cima não se resolve de imediato. Neste ano, o buraco da camada de ozônio sobre a Antártida tem 23 milhões de quilômetros quadrados. O território do Brasil, como comparação, mede 8,5 milhões. Por causa da força do CFC já emitido, o buraco só deverá começar a diminuir daqui a 60 anos.