Título: ONU prioriza reforma do Conselho de Segurança
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2007, Nacional, p. A10

O governo brasileiro obteve uma vitória parcial em sua campanha pela reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e, conseqüentemente, em sua ambição de figurar entre os membros permanentes do organismo.

Anteontem, a Assembléia-Geral da ONU decidiu, por consenso, determinar que seu presidente no período 2007-2008, o embaixador macedônio Srgjam Kerim, instaure e toque em frente um processo de negociação sobre a reforma do conselho. A decisão refletiu, em especial, uma nova estratégia de movimentação do Itamaraty, que costurou uma posição comum com 30 países em desenvolvimento.

¿O Brasil espera que esse processo nos capacite a completar a reforma do Conselho de Segurança durante a 62ª sessão da Assembléia-Geral¿, declarou a embaixadora Maria Luiza Viotto, representante do Brasil na ONU, referindo-se ao período que começará no próximo dia 25 e será concluído em setembro de 2008. ¿O Brasil estará engajado ativamente e construtivamente com todos os países interessados neste esforço¿, completou a diplomata, ao discursar ao final da reunião de anteontem da Assembléia-Geral.

O resultado deverá ser explorado às largas no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira, na abertura da 62ª sessão da Assembléia-Geral. Assim como acontece desde 1946, o chefe de Estado brasileiro será o primeiro a discursar nesse evento, que reúne os principais líderes mundiais.

O próprio Itamaraty reconhecia ontem, entretanto, que essa vitória não foi completa. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pretendia ver aprovada a instauração do processo de negociação da reforma do conselho na atual 61ª sessão da Assembléia.

Em vez de prender-se ao G-4 - o grupo que o Brasil compartilha com a Alemanha, a Índia e o Japão e que se mostrou ineficaz nas suas tentativas de impulsionar a discussão sobre a reforma -, o Itamaraty buscou afinar suas posições com outros 30 países em desenvolvimento ao longo deste ano. Essa nova frente chegou a apresentar uma proposta comum à Assembléia-Geral, que acabou aceita em boa medida.

Nesse grupo estão a Índia e a África do Sul. Mas o diferencial foi a inclusão de outros países africanos, como Nigéria e Maurício. Esse cuidado refletiu um dado concreto: sem o apoio da África, a reforma não se concretizará. Os 53 países do continente fecharam uma posição em favor de 26 novos assentos no Conselho de Segurança, entre permanentes e não-permanentes, e não abriu mão do total direito ao veto.