Título: Material nuclear sírio foi alvo de Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2007, Nacional, p. A13

Ataques aéreos à Síria, no início do mês, tiveram como objetivo carga vinda da Coréia do Norte, diz jornal

Depósitos com material nuclear importado da Coréia do Norte foram os alvos dos ataques aéreos de Israel à Síria do dia 6, segundo afirmam, sob a condição de não terem a identificação divulgada, funcionários do americanos e israelenses.

O jornal Washington Post, que ouviu no fim de semana militares israelenses que participaram da operação, confirmou que os ataques estavam vinculados à chegada de um navio vindo da Coréia do Norte, que supostamente carregaria cimento, mas que na realidade escondia equipamento nuclear.

O jornal The Times, de Londres, citando fontes do Mossad, o serviço secreto israelense, também disse que Israel destruiu material nuclear que os sírios importaram com a ajuda do paquistanês Abdul Qadeer Khan, o mesmo que vendeu segredos nucleares para Líbia e Irã. Para o diário britânico, a versão oficial de que os alvos eram armamento iraniano para o Hezbollah, a guerrilha libanesa apoiada por Teerã, estaria ¿totalmente desacreditada¿.

O governo norte-coreano negou ontem qualquer cooperação nuclear com a Síria e afirmou que as acusações foram forjadas para atrapalhar as negociações com os EUA para o desmantelamento de seu arsenal atômico.

No entanto, Andrew Semmel, funcionário do setor de não-proliferação nuclear do Departamento de Estado americano, declarou na segunda-feira que era grande a possibilidade de a Síria ter obtido material nuclear de ¿fornecedores secretos¿, já que havia um ¿número grande de técnicos estrangeiros no país¿. Quando indagado de onde eram os técnicos, Semmel respondeu: ¿Coréia do Norte, sem dúvida.¿

As ligações entre a Síria e a Coréia do Norte vêm desde a presidência dos patriarcas Kim il-Sung e Hafez Assad. Recentemente, os filhos, Kim Jong-il e Bashar Assad, retomaram a cooperação militar. Prova disso seria a presença constante de sírios nos vôos que ligam Pequim a Pyongyang, capital da Coréia do Norte, e a visita do ministro de Comércio norte-coreano à Síria, em agosto.

De acordo com o Times, a Síria teria hoje cerca de 120 mísseis Scud-C comprados da Coréia do Norte nos últimos 15 anos. Diplomatas ocidentais acreditam que engenheiros norte-coreanos estão trabalhando para ampliar o alcance atual de 500 quilômetros desses mísseis, o que significa que eles poderiam ser usados a partir do nordeste da Síria, justamente a área atacada por Israel. Especialistas acreditam que a Síria serviu de corredor para a passagem de US$ 100 milhões em tecnologia e equipamentos militares norte-coreanos para o Irã. A mesma rota, segundo eles, poderia estar sendo usada para fornecer material nuclear para a própria Síria.

Para o Times, o ataque de Israel teria apresentado também um resultado inesperado ao provar que é possível penetrar com facilidade a defesa antiaérea síria, considerada mais eficiente que a do Irã. O próprio presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, enviou seu sobrinho, Ali Mehrabian, à Síria para avaliar os danos infligidos por Israel.

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