Título: Economistas já esperam novo corte de 0,25 ponto em outubro
Autor: Assis, Francisco Carlos de e Pinheiro, Vinícius
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2007, Economia, p. B3

Para eles, preocupação do Fed é evitar que a crise provoque recessão

As reduções de 0,5 ponto porcentual no juro básico e na taxa de redesconto, somadas ao comunicado divulgado ontem, indicam que o Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fomc) realizará mais um corte do juro, mas de menor magnitude (0,25 ponto), em outubro. Essa é a opinião de vários analistas econômicos de Wall Street ouvidos pelo Estado.

A redução do juro básico de ontem foi a primeira em quatro anos. O corte anterior foi em junho de 2003, quando a taxa básica foi reduzida de 1,25% para 1%. Com relação à taxa de redesconto, em 17 de agosto ela foi cortada em 0,5 ponto, com objetivo de amenizar o aperto de liquidez no mercado financeiro.

O economista do RBC Financial Capital para os EUA, Paul Ferley, avalia que o relatório de emprego relativo a agosto, que mostrou contração no número de postos de trabalho, revelou que era elevado o risco do impacto da turbulência nos mercados sobre o crescimento do país. 'O objetivo do corte é ajudar a economia.'

Na avaliação dos estrategistas, a decisão do Fed é resultado das indicações de que o enfraquecimento em Wall Street está afetando a chamada 'Main Street', ou seja, a vida dos americanos por meio da economia real, e não apenas pesando sobre os investimentos no mercado financeiro.

Mais do que isso, vários analistas classificam que, particularmente, o mercado de imóveis residenciais já está em território recessivo e vem pesando diretamente sobre o crescimento econômico do país.

O economista-chefe do banco Wachovia, John Silvia, observa que a decisão e o comunicado revelam que o Fed está preocupado com o impacto negativo da turbulência nos mercados sobre a economia. 'O Fed quer estar à frente do problema.' Ainda assim, o corte da taxa de redesconto beneficia bancos e instituições que estão enfrentando diretamente a escassez de liquidez nos mercados, avalia.

O vice-presidente sênior e diretor de pesquisa econômica da Alliance Bernstein, Joe Carson, concorda que foi um movimento 'preventivo' e classifica como surpreendente a decisão. Essa opinião é compartilhada por várias instituições em Wall Street. No entanto, Carson estima que 'o corte agressivo (do juro básico) tem por objetivo lidar com as expectativas e determinar a trajetória futura para o crescimento do país'.

Para o economista sênior do banco Wells Fargo, Scott Anderson, 'o corte foi uma dose saudável de remédio para a economia'. 'Há riscos claros ao crescimento e o corte foi agressivo para evitar a recessão', completa.

O economista Robert Mellman, do JP Morgan, previa um corte menor, mas acredita que o Fed foi capaz de evitar o temido risco moral por causa do estado da economia local. Ele cita também o claro enfraquecimento do mercado de imóveis residenciais no país. 'É uma bobagem falar em risco moral quando é a economia que está em risco. Houve um resgate da economia, e não dos investidores', afirma o economista-chefe da Standard and Poor's, David Wyss.