Título: Ipea alerta governo contra inflação a 5%
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2007, Economia, p. B8

Para instituto, ritmo de expansão dos gastos públicos deve diminuir

O governo deve reduzir o crescimento dos gastos públicos no ano que vem para evitar o risco de a inflação chegar à casa dos 5% em 2009 e 2010. Além disso, é preciso melhorar a composição dos gastos, reduzindo o peso das despesas correntes e aumentando o dos investimentos. O cenário consta do Boletim de Conjuntura divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que prevê expansão econômica de 4,5% em 2007 e em 2008.

O quadro traçado pelo Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) identifica 'modesta aceleração inflacionária' em curso e indica que o controle para o aumento dos gastos ajudaria a evitar que 'a alta esperada da inflação em 2007 e 2008 origine expectativas de aceleração dos preços para a segunda metade do atual governo'.

Entre 2009 e 2010, o câmbio deverá estar mais desvalorizado e a capacidade potencial de a oferta atender a demanda pode ser menor que a atual (o chamado hiato do produto, no jargão econômico). 'Seria oportuno que a taxa de crescimento dos gastos públicos seja um pouco menor', diz o coordenador do GAC, Fábio Giambiagi.

De maneira simplificada, a idéia é que a política fiscal deve ajudar a política monetária. O Ipea informa que o gasto público cresceu 9,4% de janeiro a julho deste ano, em relação ao ano anterior, e 'de forma generalizada'. Nos últimos três anos, cresceu 8% em 2004, 9,5% em 2005 e 8,6% no ano passado. De forma geral, o impacto desse crescimento tem sido parcialmente compensado com o aumento das receitas. Giambiagi argumenta que os gastos podem continuar em alta, mas é preciso diminuir o ritmo.

As possibilidades de redução dessa expansão passam, basicamente, por três vertentes, diz o economista. O governo deve ser mais duro no controle das despesas discricionárias, deve aprovar o projeto que estabelece teto de 1,5% ao ano para o crescimento real das despesas, além do projeto que modifica regras do auxílio-doença.

PREVISÕES

O Ipea revisou de 3,4% para 4% a expectativa de inflação para este ano e projeta 4,3% para o ano que vem. O GAC avalia que, embora a evolução da inflação não seja grave, 'é importante que essa aceleração seja controlada'.

A previsão do Ipea considera a hipótese de alta dos preços dos alimentos passageira. O grupo admite, contudo, que o fenômeno pode se estender por mais tempo, como efeito do avanço da demanda de países como China e Índia. Nesse caso, haveria 'dor de cabeça para os bancos centrais de todo o mundo', indica Giambiagi.

O cenário do Ipea considera que o Banco Central (BC) deverá decidir por mais um corte da Selic de 0,25 ponto porcentual na reunião de outubro e fazer uma espécie de parada técnica nos cortes, até meados do ano que vem.

Em 2008, a Selic chegaria a 10% no fim do ano e os juros reais médios seriam de 6,2%, os menores desde o Real. O instituto ajustou de 4,3% para 4,5% o crescimento esperado do PIB para este ano, principalmente por causa do desempenho do consumo interno e dos investimentos.

COLABOROU ADRIANA CHIARINI