Título: Delegado suspeita da ligação de mais de 100 PMs com tráfico
Autor: Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2007, Metrópole, p. C5
Ele vê indícios de envolvimento de homens de 2 batalhões da Baixada Fluminense com bandidos
O número de policiais militares envolvidos com o tráfico de drogas na Baixada Fluminense pode chegar a cem, segundo o delegado André Drummond (59ª DP), um dos responsáveis pela investigação que resultou na prisão de 56 PMs do 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM),de Duque de Caxias, entre anteontem e ontem. ¿Há indícios e informações sobre o possível envolvimento de policiais de outros batalhões¿, disse. Ele citou o 34º Batalhão da PM, em Magé, também na Baixada. Disse, porém, que a nova investigação só deverá começar após a eventual decretação da prisão preventiva e denúncia dos acusados já detidos.
¿Eles (os policiais) recebiam `arrego¿ (pagamento de traficantes), cobravam para que o tráfico funcionasse. Se não viesse dinheiro, eles (policiais) prendiam (traficantes) e exigiam dinheiro para soltar¿, disse. A investigação começou em fevereiro, com a apreensão do caderno de um traficante, no qual havia um número de telefone e um nome, não revelados. ¿Só existe tráfico por causa do usuário e porque em determinados locais temos maus policiais, que dão cobertura ou se omitem.¿
Segundo o delegado, o esquema funcionava desde antes da posse do comandante do 15º Batalhão da PM, tenente-coronel José da Silva Macedo Júnior, que assumiu em janeiro. Segundo ele, durante a gestão de Macedo ¿os índices de criminalidade na região foram reduzidos, exceto roubo a transeuntes¿.
Sobre eventual envolvimento de oficiais, o delegado disse ainda não ter indícios. Ontem, mais quatro policiais se apresentaram e foram detidos. Dois continuavam foragidos até o fim da tarde: um estaria em lua-de-mel, e outro, de férias. Um terceiro foragido, agente penitenciário, seria ex-PM.
André Drummond passou a tarde de ontem esperando 15 dos 52 PMs presos na véspera, intimados por ele. Mas os PMs ficaram no Batalhão Especial Prisional (BEP). A alegação do comando do BEP e da Corregedoria-Geral da PM foi a de que faltava ¿um requerimento¿ no ofício encaminhado pelo delegado. Os depoimentos estavam marcados para as 13 horas. Às 14h30, o delegado declarou: ¿Foi uma ordem do secretário de Segurança (José Mariano Beltrame). Estou aguardando a chegada deles.¿ Depois, como ninguém chegou, disse: ¿Houve simplesmente burocracia, e quem deve explicar é a PM. Conversei com o coronel. Os depoimentos começam amanhã. Prefiro não me meter na motivação. Meu interesse é investigar.¿ O corregedor-geral da PM, Paulo Paul, disse que os depoimentos vão ocorrer a partir das 13 horas de hoje, em grupos de dez policiais.
O presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Rio, Vanderlei Ribeiro, disse ontem que pedirá ao governador Sérgio Cabral Filho que acione a Polícia Federal para investigar o envolvimento de oficiais da PM, policiais civis e delegados com o tráfico em Duque de Caxias.
¿Será que apenas os cabos, soldados e sargentos estão envolvidos? Onde estão os oficiais? Onde estão os policiais civis? E os delegados?¿, questionou Ribeiro, que acusa a investigação de ¿politizada e direcionada para a base da PM¿.
Outros 69 soldados, cabos e sargentos permanecem encarcerados acusados do mesmo crime. Eles foram descobertos em investigações da Polícia Federal que culminaram, em dezembro, com a Operação Tingüi.
Escutas feitas com autorização judicial captaram conversas dos policiais com os traficantes. No telefonema em que cobrava propina, diante da alegação do bandido de que estava sem dinheiro, o PM aconselhou: ¿Vai assaltar.¿