Título: País tenta salvar parceria com Chávez
Autor: Marin, Denise Chrispim e Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2007, Nacional, p. A13

Lula tenta convencer colega venezuelano a flexibilizar exigências da PDVSA em projetos com a Petrobrás.

Manaus - O Planalto fará hoje uma tentativa para salvar a parceria estratégica Brasil-Venezuela na área energética. Durante almoço agendado pelo governo brasileiro em Manaus, Lula tratará de convencer o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a flexibilizar as exigências da Petróleos de Venezuela (PDVSA) nos seus dois projetos comuns com a Petrobrás - a Refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco, e a exploração conjunta de petróleo nas jazidas de Carabobo 1. Mesmo cordial, a conversa terá um indisfarçável tom de ultimato. O resultado da missão de Lula, entretanto, ditará o curso das desgastadas relações bilaterais e do próprio projeto de integração sul-americana.

O encontro foi sugerido por Lula a Chávez, como reforçou ontem o porta-voz do Planalto, Marcelo Baumbach. Trata-se da primeira vez que ambos se reúnem frente a frente para ¿colocar a conversa em dia¿ depois de uma série de imbróglios provocados pelo próprio Chávez ao longo deste ano. Primeiro, sua acusação de que os senadores brasileiros agiam como ¿papagaios¿ do Congresso americano. Depois, seu ultimato para o Parlamento brasileiro aprovar a adesão plena da Venezuela ao Mercosul até este mês. Por fim, sua afirmação de que o atraso da Petrobrás nas obras da Refinaria Abreu de Lima era uma ¿vergonha¿.

Estampados com menos alarde, dois dilemas corroeram mais a fundo o diálogo Brasil-Venezuela e levaram o Palácio do Planalto e o Itamaraty a organizar essa ¿trégua¿ com Chávez. O primeiro foi o rumo político da Venezuela. Chávez, que já centralizava as decisões do Executivo e controlava integralmente o Legislativo e o Judiciário, obteve o direito a ilimitadas reeleições.

O outro dilema está ligado à posição inflexível da PDVSA em relação à sua parceria com a Petrobrás nos projetos de exploração de Carabobo 1 e de construção da refinaria em Pernambuco, que já foi iniciada pela companhia brasileira. Desde o início das conversas, em 2005, estava acertado que a Petrobrás teria 40% do controle do primeiro projeto e 60% no segundo. Sob a instrução direta de Chávez, a PDVSA mudou as regras.

A empresa anunciou três exigências: o controle de 60% da refinaria; o refino apenas de petróleo venezuelano, quando a idéia era 50% para o óleo de cada país, e a destinação dos produtos da refinaria para o mercado venezuelano, onde são vendidos a preços infinitamente menores que os do mercado internacional.

Segundo uma fonte do governo, o Brasil precisa da nova refinaria e a Petrobrás vai construí-la, com ou sem a PDVSA. Se a empresa venezuelana não recuar, a Petrobrás vai buscar um novo parceiro. Esse será o recado de Lula e da Petrobrás a Chávez.

IMBRÓGLIOS

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