Título: Cresce o investimento direto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2007, Notas & Informações, p. A3

O capital estrangeiro volta a apostar pesadamente no Brasil. De janeiro a agosto, o investimento direto no País alcançou US$ 26,49 bilhões em termos líquidos. Esse valor é 161% maior que o de igual período de 2006 e 41% superior ao resultado total do ano passado. Esse é o investimento que se destina à atividade empresarial, contribui para o crescimento econômico e não segue a maré da especulação financeira. Não é, portanto, atraído pelo juro alto, mas pela expectativa de lucro na produção de bens e serviços. Diante dos novos números, economistas do Banco Central (BC) elevaram de US$ 25 bilhões para cerca de US$ 32 bilhões o saldo projetado para 2007. Se a nova expectativa se confirmar, será repetido, e talvez superado, o recorde do ano 2000, US$ 32,78 bilhões, mas com uma diferença importante: nos anos 90 e no começo do novo milênio, as privatizações foram o grande atrativo para os investidores de fora.

Neste momento, nenhuma grande estatal está à venda. As motivações, segundo os analistas, são bem diferentes: a economia volta a crescer, o País deve alcançar em breve o grau de investimento nas classificações internacionais de risco e há boas perspectivas de ganhos em setores variados, como os de metalurgia, biocombustíveis e serviços a empresas.

No ano passado, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 18,78 bilhões em termos líquidos. Foi o maior valor em cinco anos. O fluxo caiu de US$ 32,78 bilhões em 2000 para US$ 22,46 bilhões no ano seguinte. O resultado mais baixo, US$ 10,14 bilhões, ocorreu em 2003, no começo da primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os valores oscilaram nos anos seguintes e uma firme recuperação começou a ser observada no segundo semestre do ano passado.

O forte ingresso do investimento estrangeiro pode ser em parte explicado pela sobra de recursos no mercado internacional. Mas outros fatores têm certamente pesado nas decisões. O Brasil se destaca, apesar de alguns desacertos da política oficial, como um país de grandes oportunidades. Seu desempenho recente no comércio internacional, sua posição singular na América do Sul e a condição bastante razoável de seus fundamentos econômicos justificam a aposta dos investidores.

A aposta seria mais pesada, pode-se imaginar, se o programa de reformas avançasse com maior firmeza e, além disso, houvesse menos obstáculos burocráticos e maior segurança quanto à expansão e à modernização da infra-estrutura nos próximos anos. O governo cometerá um erro grave se interpretar o ingresso de capital estrangeiro como um sinal de plena satisfação dos investidores com as condições do País.

Se o fluxo observado no último ano pelo menos se mantiver, dificilmente se poderá esperar para os próximos anos uma desvalorização cambial de grandes conseqüências. Com o juro real em queda e alguma redução do superávit comercial, o dólar poderá ficar mais caro, mas ninguém deve contar com a alteração do câmbio para ganhar poder de competição. Mas o capital estrangeiro poderá contribuir para os ajustes setoriais necessários e para novos ganhos de produtividade.

Não só no ingresso de investimentos diretos há novidades importantes. Também os empresários brasileiros estão investindo mais no exterior, em busca de escala e de posições estratégicas no mercado global. Nos 12 meses terminados em agosto, brasileiros investiram US$ 27,2 bilhões no exterior. Grandes grupos brasileiros tomaram o rumo da internacionalização, investindo tanto em países avançados, como os Estados Unidos, o Canadá e a Áustria, como em mercados emergentes, como o Chile, o México, a Argentina e o Uruguai.

Parte desses investimentos é motivada pela vocação internacional dos grandes grupos. Parte é estimulada, lamentavelmente, pela busca de posições em países com melhor acesso a grandes mercados, como os Estados Unidos. Esta segunda motivação seria menos importante se a diplomacia econômica brasileira tivesse buscado com maior empenho acordos comerciais com os grandes parceiros do Primeiro Mundo. Nesse caso, empresas baseadas no Brasil teriam condições muito melhores para enfrentar no exterior competidores poderosos como a China e outros emergentes. Investiriam fora para buscar escala e oportunidades, e não para corrigir deficiências da política de comércio exterior.