Título: Na Rússia, Rato defende uma perestroika no FMI
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2007, Economia, p. B13
Diretor-gerente elogia candidatos à sucessão e diz que economias emergentes precisam ter mais voz no Fundo Monetário Internacional
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, defendeu hoje o lançamento de uma 'perestroika' dentro do organismo, e qualificou como 'excelentes' os dois candidatos à sua sucessão no cargo.
'O FMI precisa do que os russos chamariam de uma 'perestroika'', disse Rato em Moscou durante sua viagem de despedida à frente da instituição. Rato, que deixará o cargo em outubro, dois anos antes de expirar seu mandato (2009), disse ser favorável à reforma do atual sistema de cotas, que confere aos países desenvolvidos mais da metade dos votos nas decisões tomadas no fundo.
'A reforma é crucial. Existe o consenso de que as economias emergentes e em desenvolvimento - Rússia, Brasil, China, Índia, México - tenham mais voz no FMI', acrescentou.
Brasil, Rússia, Índia, Indonésia e outros países criticam o fato de que, desde sua fundação, o diretor-gerente da organização sempre tenha sido um europeu e o presidente do Banco Mundial, um americano.
O responsável do FMI qualificou como 'excelentes' os candidatos à sua sucessão, o francês Dominique Strauss-Kahn, proposto pela União Européia (UE), e o tcheco Josef Tosovsky, apresentado pela Rússia. 'É um bom gesto que a Rússia proponha um candidato que não seja russo. Esta será uma competição aberta e transparente', ressaltou. Rato se mostrou disposto a trabalhar pelas próximas semanas junto ao candidato que for eleito pelo Conselho de Diretores do FMI.
O Ministério de Finanças russo anunciou em agosto que seu país não apoiaria o candidato sugerido pela UE e propôs como alternativa Tosovsky, que já foi primeiro-ministro da República Tcheca e presidente do Banco Central do país.
De qualquer forma, os especialistas dão como certa a escolha do candidato francês - uma aposta pessoal do presidente da França, Nicolas Sarkozy -, considerando que, na semana passada, o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciou publicamente que Washington apoiará Strauss-Kahn.
Quanto à iniciativa proposta pelo ex-primeiro-ministro russo Yegor Gaidar de criar uma instituição alternativa que represente as economias em desenvolvimento, Rato considerou-a deslocada. 'Uma coisa é criticar o FMI e outra criar um organismo multilateral alternativo. Seria como se retrocedêssemos 60 anos para dividir outra vez o mundo, após o que seria preciso esperar outros 60 anos para voltar a uni-lo.'
HIPOTECAS
Sobre a crise hipotecária que abalou o mundo nas últimas semanas, o diretor-gerente do FMI disse que terá pouca repercussão nas economias de América Latina, Ásia e no mundo árabe. 'As economias de China, Brasil e Rússia experimentaram índices de crescimento substanciais nos últimos anos. A crise é grave e não estamos perto de resolvê-la, mas será preciso esperar semanas para ver se isso mudará.'
Segundo ele, a influência da crise será limitada na Europa, mas pode se tornar séria nos Estados Unidos. No entanto, isto só ficará claro a partir de 2008.
'No futuro, os empréstimos não voltarão a ser concedidos nas mesmas condições que eram até agora.'